É. Eu morri também em Santa Maria... Chocada,
indignada, abismada, abalada, triste...
Mas venho morrendo há tempos e continuo morrendo
um pouquinho por dia porque a morte ali é a morte cotidiana de jovens que nem
sequer puderam sonhar em estar em uma Universidade e morrem todo dia. Morrem na
miséria, morrem na ação truculenta da polícia autorizada a desconfiar
principalmente de negros e pardos, morrem no estigma social que os marginaliza
e os condena a morrerem a cada dia.
Morro um pouquinho por dia quando ouço no noticiário
os breves 2 minutos apresentando a morte suspeita, quero dizer, de sete
suspeitos, e ouço ao fundo um respiro de alívio acompanhado de um “Menos sete!”
dito com muita satisfação.
Morro um pouquinho por dia porque vidas humanas têm
valores diferentes na mídia e sociedade brasileiras.
Morro um pouquinho por dia porque a mídia
brasileira faz da tragédia humana um espetáculo armado, atravessando a dor dos familiares,
amigos, conhecidos...
Morro um pouquinho por dia porque continuam as
filas nos hospitais, onde morrem todos os dias crianças, idosos, mulheres
grávidas, recém-nascidos... Onde padecem com suas dores doentes terminais sem
uma visita, sem um sinal de esperança, sem exército de salvação ou ajuda
voluntária.
Morri em Santa Maria. Mas sei que, infelizmente,
vou continuar a morrer um pouquinho por dia...