Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

FRIDA

E Frida então, finalmente, entendeu que não era amor. Sentiu-se perdida. Fraca e odiável. Mas resolveu que então sairia à busa de um amor de verdade. Apesar da incerteza sobre sua existência. Aceitou convites. Dançou. Cantou. Bebeu. Riu. Fez novas amizades. Divirtiu-se. Mas aquele vazio, aquele que fazia com que sentisse sempre em busca de algo mais, continuava lá, agora ainda mais forte.

Dedicara-se mais à família. Já tinha um emprego. E diante de sua insegurança, apenas desejava ter acertado nas suas decisões.  Sentia medo. Um pouco de vergonha. Desejava uma vida diferente nessa idade, ou então, apenas ter 19 anos ainda para fazer tudo diferente, cometer novos erros com menos culpa.

Agora sentia-se como uma peça errada no quebra cabeça. Não se encaixava em ponta alguma, nem direita, nem esquerda. No centro sentia-se ainda mais perdida. Discordava de tanta coisa. Discutia com os programas jornalísticos, superficiais e sensacionalistas. Indignava-se com a futilidade da população tão interessada nos reality shows que invadiram as programações.

Desejava pensar menos. Divagar e questionar menos. Parar de buscar respostas para o que, talvez, fosse mesmo incompreensível e apenas aceitar. Mas também não sabia como fazer isso. Era incapaz.

E em meio a tantas divagações sobre política, sociedade e educação percebia-se igual a toda menina que ainda esperava por um príncipe encantado e temia. Talvez agora desejasse uma vida mais piegas e talvez seu maior medo, inconfessável, fosse de que o seu conto de fadas nunca chegasse. Que nunca fosse capaz de dizer "Eu te amo" para alguém tendo a certeza de que ouviria como resposta a mesma coisa sincera e fielmente.

Mas Frida seguia seu caminho. Em busca. Mesmo sem saber ao certo o que buscava. Fraquejava às vezes e apenas desejava não viver mais nesse mundo. Mas erguia-se. Curava suas feridas como podia e sorria para as armações que o mundo pregava. E Frida continua tentando... Sempre tentará.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 7


Minha pele está ótima! Tom bronzeado com marquinha de biquíni. O Victor adora! Cabelos levemente queimados do sol, ou seja, luzes naturais!!! Parece até que meu corpo está mais firme. Uma semana maravilhosa, meu caro espelho! Dá pra notar na pele, não é? [RS]

Foi bom. Bom? Foi ótimo! Senti-me novamente com 30 anos, recém-casada, e apesar de um certo peso na consciência em sentir-me feliz por não precisar acordar cedo para levar as crianças na escola, ter que pensar no lanche, no uniforme, no dever de casa e ainda conciliar isso tudo com meu trabalho, foi maravilhoso!

É bem verdade que a frequencia do sexo, comparando-se com 10 anos atrás, diminuiu um pouco, mas a qualidade... Victor ainda consegue me surpreender nessas horas, e quem é que precisa de pães branquinhos com um sexo desses!!! [RS]

Foram só cinco dias. Resolvemos diminuir para não nos sentirmos tão culpados de deixar as crianças por uma semana inteira como órfãos nômades na casa dos avós, ora maternos, ora paternos.

Sim, eu demorei um pouco a entrar no clima de “lua de mel”. Esquecer aquele encontro não foi fácil. Durante a viagem o Victor chegou a fazer a pergunta que eu tanto temia “O que você tem? Você está estranha.” Inventei que de repente comecei a sentir medo de viajar de avião, que estava ansiosa e ele segurou minha mão de tal forma que minha culpa fez logo com que eu arrumasse um jeito de tirar aquela história sem sentido da minha cabeça.

Pousamos no Rio e lá alugamos um carro para continuarmos até Búzios. Mas próximo de Búzios, com a insensatez de um adolescente, Victor fez um desvio maluco que nos colocou a beira mar, numa vista perfeita e... Achei que isso nunca mais aconteceria no carro, mas voltei a compreender o amável desconforto de se estar num carro com um homem... Reencontrei no Victor aquele jovem rapaz engraçado, com um ótimo pique de piadas por quem eu havia me apaixonado, mas dessa vez nem pensamos em discutir “Crime e Castigo”. [RS].

Demo-nos conta que o sol já havia se posto há muito tempo e o cenário perfeito pedia pelo brilho céu uma lua cheia, mas não, deparamo-nos com trovões e um tempo se fechando que fez com que nos apressássemos para encontrar o hotel que pelas nossas contas devia estar há no máximo uma hora dali. A chuva foi mais rápida que nós e, segundo Victor, foi esse o motivo que nos fez acabar num quarto coletivo de Albergue depois de quase 4h rodando!!! Não ousei dizer que foi sua busca por caminhos alternativos depois do nosso escape, ou sua arrogância e prepotência em não admitir-se perdido numa cidadezinha de uns 25 mil habitantes e parar para pedir informação!

E é daí que começaria uma noite esquecível de segunda lua de mel... Um quarto com 7 beliches, 1 banheiro. Ar condicionado? Artigo de luxo! Só havia nas suítes Vips, todas ocupadas quando chegamos. Nosso quarto dispunha de um ótimo ventilador de teto que fazia tremer toda aquela estrutura de madeira. Pernilongos? Muitos! Quando chegamos o moço da recepção, um hippie, dono de um imenso rastafári nos disse que tivemos sorte porque aquele quarto estava vazio e poderíamos ficar a vontade. Era uma maravilha: Victor, eu e 6 beliches.

Victor, tentando me consolar, colocou-se a arrumar colchões no chão e emendar lençóis, mas para completar a cena perfeita da lua do mel, adentra ao quarto uma galerinha com um cheiro de erva que não me era estranho, mas o tempo não me permitia reconhecer com total nitidez. Fiquei atordoada e não sei se contei direito, mas acho que eram 9. 4 casais, mas não sobrava ninguém. Essa geração resolve qualquer problema e “segurar vela” é coisa do passado. Pedi ao Victor que colocasse os colchões no lugar. Tudo o que eu queria era um dramin que me fizesse dormir profundamente...

Mas a noite estava só começando...



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

QUERO SEMPRE MAIS, SEMPRE!

Ai a "Marthinha"... Minha melhor tradutora...
(Encontrei o texto sem título, então ousei entitulá-lo assim.)


Era uma festa familiar, destas que reúnem tios, primos, avós e alguns agregados que ninguém conhece direito. Jogada no sofá, uma garota não estava lá muito sociável, a cara era de enterro.
Quieta, olhava para a parede como se ali fosse encontrar a resposta para a pergunta que certamente martelava em sua cabeça: o que estou fazendo aqui?
De soslaio, flagrei a mãe dela também observando a cena, inconsolável, ao mesmo tempo em que comentava com uma tia.
"Olha pra essa menina. Sempre com esta cara. Nunca está feliz. Tem emprego, marido, filho. O que ela pode querer mais?"
Nada é tão comum quanto resumirmos a vida de outra pessoa e achar que ela não pode querer mais./ Fulana é linda, jovem e tem um corpaço, o que mais ela quer? Sicrana ganha rios de dinheiro, é valorizada no trabalho e vive viajando, o que é que lhe falta?
Imaginei a garota acusando o golpe e confessando: sim, quero mais!!!
Quero não ter nenhuma condescendência com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo na minha rotina como um inquilino inevitável.
A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino.
Que eu nunca aceite a idéia de que a maturidade exige um certo conformismo.
Que eu não tenha medo nem vergonha de ainda desejar.
Quero uma primeira vez outra vez.
Um primeiro beijo em alguém que ainda não conheço, uma primeira caminhada por uma nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.
Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa.
Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.
Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor.
Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as que dão certo.
Me permitir ser um pouco insignificante.
E na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de existir.
O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu lado mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões familiares, marido, filhos, bolos de aniversário e despertadores.
E também quero mais tempo livre ... e mais abraços.


Martha Medeiros

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