Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Às vezes tem uma vaca no caminho...



Intercâmbio é descoberta e nem todas são necessariamente boas. Mas talvez importantes pra gente entender a vida, se entender na vida... Já descobri que carma não te larga, não importa quantos quilômetros você viaje, por exemplo. Devem mesmo ter coisas de outras vidas que precisamos aprender a resolver...

Descobri que as vezes tem uma vaca no caminho. Literalmente. E é gostoso de ver, olhar a calma dela ali, só comendo e ruminando... Às vezes eu queria ser uma vaca, mas desisto logo ao lembrar de um churrasco, coisa que não vejo há mais de um mês já...

Em frente à universidade Jean Piaget


Eu me considero uma pessoa agnóstica, acho que tudo é possível, assim como a negativa é igualmente verdadeira, mas fico pensando que se existe mesmo um Deus, ele deve estar um pouco chateado comigo, ou sendo sádico testando minha paciência e capacidade de resiliência, aí repenso meus dramas e penso também que se Deus existe ele tem coisa bem mais séria e bem menos #classemédiasofre pra resolver e sigo na dúvida... negando nada, afirmando menos. 

Mas tô achando que os chineses vão dominar o mundo. O ilhéu mais fofo daqui será transformado num grande cassino e hotel. E as obras já começaram. Os chineses também têm acordo pra pescar em mares caboverdianos e, segundo me contaram isso já impacta a vida de alguns pescadores aqui... 
A prainha e a vista pro ilhéu... 

Logo à frente, tapumes que escondem o mar e obras...

Tá vendo como uma imagem depende do ponto de vista! Não é tão bonito visto dessa forma, né?

Ao menos uma vez por semana eu dou uma saída por aqui pra ver gente, respirar novos ares e na última semana  fui conhecer o Memorial de Amílcar Cabral que foi um líder da Libertação de Guiné Bissau e Cabo Verde em luta armada contra Portugal. Ele tinha um quê de comunista, gente! Como não amar, não é mesmo?!? 
Memorial à Amílcar Cabral - Praia, Cabo Verde
"Perguntar-nos-ão se o colonialismo português não teve uma ação positiva na África. A justiça é sempre relativa. Para os africanos, que durante cinco séculos se opuseram à dominação colonial portuguesa, o colonialismo português é o inferno; e onde reina o mal, não há lugar para o bem". Amílcar Cabral.

Depois fui conhecer a Biblioteca Nacional e passeei um tempo pela sala infanto juvenil. 



Depois segui pro "mercadão" – o Sucupira – que tem esse nome por causa de uma novela brasileira. Lá eu me sinto no mundo de Nárnia, eu entro por uma das entradas e jamais consegui sair pela mesma. Aliás eu levo um tempo até conseguir sair dele. Vende-se de tudo por lá: celulares, relógios, tecidos, roupas de todos os tipos, sapatos, produtos de beleza, souvenirs, frutas, legumes, peixes, temperos, panelas, faz cabelo, faz a unha... Só não tem mesmo um mapa pra se localizar... E então lá estava eu com uma sacola com um vestidinho africano💚, banana, tomates, cebolas, pão e dois filés de atum fresco. 


Em frente ao mercado Sucupira

Em frente ao mercado Sucupira

No último final de semana fez um sol bacana, pra compensar a falta de internet em casa. Nada de filme, série ou coisa do tipo pra distrair a solidão. O jeito foi passar mais tempo na praia. Como por aqui o transporte, apesar de barato é difícil principalmente aos FDS, arrisquei pedir carona, e não é que deu certo?!? Foi ótimo e uma economia de 40 escudos! Que logo mais eu doei ao me sentir meio intimidada por dois rapazes que me pediram um dinheiro... Ok, gentileza gera gentileza. isso foi no domingo, dia que decidi me bronzear com uma sonequinha na praia. Depois mergulho com peixinhos. Revigorante!






No sábado (pra que ordem cronológica, né, gente?!?), conheci a ilha da Ilha de Santiago (aquela que vai virar cassino e hotel de luxo dos chineses) e como boa estabanada consegui mais um machucado, dessa vez um corte (superficial, mas o suficiente pra eu fazer meu drama queen) no pé ao em enroscar numa planta... Mas valeu a pena, foi bom, na volta teve cerveja de pressão a 100 escudos cada, ótimas conversas, praia até anoitecer, shawarma, batata frita e chocolate... 

nas ruínas do ilhéu




Os pescadores que nos levaram ao ilhéu por 1500 escudos

Ricardo e eu nos aventurando em mar aberto (SQN!) num barquinho que nem dava pra brincar de "se a canoa não virar..." 

Vale um parênteses pra contar da Shawarma que é uma massinha fina tipo pão sírio com carne, vinagrete e bata frita, tudo dentro e enroladinho. Pode parecer estranho, mas é uma delícia!!! Virou rotina já: praia e depois shawarma com + uma porção de batatas fritas!

Mas como deve ter alguma força maior tentando me testar, não bastou o FDS sem internet e sábado de manhã sem água na torneira, agora meu celular de menos de menos de 8 meses decidiu que não quer mais acender! O “ecrã” que depois eu descobri que é o display pifou. Ou seja, galerê, se você é meu amigo, amiga, ex, família, pretendente a (ponha aqui um substantivo legal!), colega, quer me dar um emprego ano que vem, ou quer me contatar, saiba que estou sem celular, mas se a internet não me abandonar novamente, ainda atendo no e-mail e facebook de sempre.
Beijo, me escreve! 😉

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Reset

Não sei ao certo como começou. Alguns dizem que foi já em junho de 2013 quando o gigante acordou meio desavisado revoltado com tudo sem entender que na verdade era sim pelos 20 centavos. Um gigante mimado que começou a perceber que pelo seu tamanho – não pela qualidade – poderia esbravejar e conseguir com manha o que quisesse. Sua birra resultou num golpe consolidado em 31 de agosto.


Daí por diante soltamos os freios e deixamos a locomotiva seguir ladeira a baixo, com muita gente feliz porque não gostava da maquinista anterior. Dane-se que o trem vai se espatifar no precipício com todo mundo dentro. O importante é que trocamos a maquinista.

 
Jantares milionários são servidos para conciliar acordos de austeridade (?!?!?!?!). Qualquer incoerência na frase não é erro da escritora. Reformas de sucateamento do ensino médio são propostas com apoio de quem prefere Alexandre Frota à Paulo Freire. Delações que afirmavam propina à Dilma viram doações legítimas quando do “equívoco” do delator que na verdade nomeou cheque de 1 milhão a Temer... Grupo invade plenário da câmera pedindo intervenção militar e bandeira do Japão é confundida com bandeira comunista... Comemora-se o espetáculo midiático de uma prisão, e o desespero de uma filha ao ver seu pai ser preso...

Reset. Reiniciar. Não está dando certo. E enquanto o meteoro não vem, seguimos. Cegos, alienados em frente a telas brilhantes que nos divertem com a tragédia humana estampada em 1080 bits. “Bandido bom é bandido morto, bandido bom é bandido ridicularizado pela mídia”. Rimos. Perdemos a empatia e nos orgulhamos do nosso patriotismo cristão ao ver a justiça ser traduzida em espetacularização midiática. Aplaudimos. “Quem não tem pecado que atire a primeira pedra”. Esquecemos.

Um dia em saturno...


Lembro-me perfeitamente de como foi há 1 mês... Uma ansiedade que não cabia em mim, misturada com uma calma que eu não sabia que teria para um momento desses. Almoço em família com estrogonofe (um dos meus pratos prediletos!!!) e batata ao forno com molho branco e muito queijo... Comi menos que deveria pela ansiedade...
Fui me despedindo do Brasil ao olhar cada coisa pela estrada, a caminho do aeroporto. As risadas no aeroporto pelas patacoadas no elevador. O lanche no Bob’s com milk shake de Ovomaltine e o melhor de tudo, minha família ali comigo. A despedida e minha mãe ensaiando um choro que pedi pra ñ deixar rolar ou eu não teria coragem de embarcar. Embarquei. 


Voei e cá estou. Bem. Feliz e com saudades. Saudade das boas de quem sabe que vai encontrar muito amor e um porto seguro na volta, mas por enquanto a vida é de descobertas.
Foi 1 mês e parece que faz 1 ano e ao mesmo tempo só uma semana. Paradoxos do tempo. Já conheci tanta gente, algumas que ainda não consegui conciliar fisionomia e nome e outras que me alegram o coração toda vez que encontro.
Mas intercâmbio não são só rosas. Todos me diziam que seriam o melhor da vida, que é sensacional. Esqueceram de me dizer que é difícil. Que é difícil não saber onde encontrar comida. Que é difícil ficar doente e se ver sozinha num país onde não se sabe onde fica uma farmácia. Que a saudade bate e a gente se sente sozinha. Que a comida pode não agradar....
Senti-me culpada de me ver em alguns momentos contando as semanas pra ir embora... Eu mesma não entendia, não estava desgostando, mas me via contando as semanas... Ter amigas por perto, mesmo de longe é essencial nesses momentos, e foi aí que a Marina me acalmou o coração, dizendo que isso é muito natural, que as pessoas apenas não dizem, porque no fim, como tenho sempre dito, o que fica do intercâmbio é o copo metade cheio. Foi então que comecei a decifrar o grande lance do intercâmbio: não é que não haja perrengues. Há. Muitos. O lance está em se perceber capaz de se virar em todos eles e seguir firme. É aprender a desfrutar da vida da forma como deveríamos fazer cotidianamente - devorando cada paisagem com olhos curiosos, saboreando cada comida como se fosse única, - porque de fato é. No fim, as pessoas têm razão. Intercâmbio é mesmo tudo isso que dizem: é sensacional, uma experiência ímpar! E é descoberta - de mundo e de si mesma.
Eu já descobri que não quero viver longe da minha família que não seja possível eu passar um final de semana ao mês com eles pelo menos. Quero ver minhas sobrinhas crescerem e participar dessa fase da vida delas. Quero estar perto da minha mãe e da minha irmã porque descobri que apesar de tão diferentes somos tão fortes e necessárias umas às outras. Mas descobri também que sou capaz de viver sozinha, o que eu, na verdade, já desconfiava, mas fui além, descobri que posso beber sozinha num bar, ir sozinha à praia, e que tudo isso pode ser ótimo. Descobri que o sotaque cearense é dos mais gostosos e realmente me encanta. Descobri que sou capaz de encarar uma aula de improviso como lousa e giz e ter uma ótima desenvoltura (modéstia à parte, lóóóóóógicoooo).  



Algumas coisas se reforçam: não tolero fundamentalismos de qualquer tipo, e tenho acreditado cada vez mais que o fundamentalismo religioso é dos piores males da humanidade. A diversidade de fato me encanta! E sigo considerando justa toda forma de amor. Toda. 💗💙💚💛💜

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Há milhas e milhas distante...


Por aqui as coisas estão bem. Tem hora que até bate uma tristezinha, saudades e me sinto sozinha sem amigas mulheres, não é tão simples e não são só alegrias viver num país longe e diferente do que se está acostumada, mas abrir o coração para novas descobertas faz tudo parecer menos assustador... E tem sido uma aventura incrível!

O feriado de finados aqui é dia 1º de novembro e a professora Gertrudes me convidou para ir passear com ela e sua família. Fomos a Rui Vaz que é uma cidadezinha de montanhas, comemos milho assado e cozido e pastel de milho que é tradição aqui neste feriado e depois fomos a uma praia em Praia mesmo (aqui se vc pegar um táxi e pedir para ir à praia, vc chega no centro, não ao mar, praia aqui é praia mar) que eu ainda não conhecia – a praia mar São Francisco. Todos são sempre mto simpáticos e gentis de forma que me sinto muito a vontade para ser eu mesma. Foi um dia bem gostoso!
Montanhas em Ruiz Vaz - visão panorâmica

Casinha em Rui Vaz

Praia São Franciso

Praia São franciso - visão panorâmica


Na quinta-feira conheci a cidade-velha, que na verdade chama-se Ribeira Grande de Santiago. Foi a primeira cidade do país, onde chegaram os portugueses em 1460, tornando-se Ribeira Grande em 1462. Vi a apresentação das batucadeiras, uma manifestação cultural de mulheres que tocam, cantam e dançam. É sensacional!!!! A cidade é uma gracinha e lembra um pouquinho Paraty (RJ/ Brasil) que eu tanto amo. Ok, que caí no conto mais brasileiro de todos: ganhei uma lembrancinha porque brasileira é sempre amiga, mas depois fui “forçada” a comprar um imã de geladeira que nem queria... E lá se foram 300 escudos...

Cidade Velha
Cidade Velha

A última sexta-feira foi um desses dias em que bate um desânimo e a princípio pensei em hibernar, deitei, cochilei, pensei em ver um filme, mas lembrei que o copo pode estar metade cheio ao invés de metade vazio. Biquini, táxi e praia. Ah, o mar!!! Resolvi dar um mergulho, dessa vez com meus óculos de natação e vi peixes lindos, grandes... Em meio a isso topei com um rapaz sozinho e decidi puxar papo: Vc é cabo verdiano? Com a certeza de que eu ouviria um “I’m germany”, mas eis que ele me responde: Não, eu sou brasileiro! Foram músicas ao meu ouvido. Engatamos num papo que só terminou quase meia noite depois de dividir um táxi para voltar para casa...

Essa nova amizade fez com o que o FDS fosse bem legal com cia para vários programas, praia no sábado a tarde, lanche a noite, compras no mercado... Almoço no domingo seguido de visita ao navio logos hope (a maior livraria flutuante do mundo que tem uma pegada bem cristã com Jesus negro e bíblias e mais bíblias... Bíblia sexista, sim, bíblia para meninas e bíblia para meninos, pasme!!! Encerramos o domingo com chopinhos (cerveja de pressão aqui!) e praia no início da noite! 






A faculdade é onde eu sinto mais dificuldade. É tudo bem diferente e ainda me sinto perdida as vezes, sem saber ao certo qual meu lugar aqui. Como doutoranda não sei enquadrada como uma estudante, mas por outro lado não me sinto uma professora... Por outro lado, consegui reunir umas meninas para falar de feminismo e elas estão muito animadas!!! Já rolou um primeiro encontro no último sábado com data marcada para um novo encontro no próximo sábado. A ideia é formar coletivo feminista da Uni Piaget! :) (O reitor é q talvez ñ goste mto...) Mas tenho procurado ter cuidado para que seja um movimento delas, com a cara delas, e dentro das especificidades delas! Mas como o machismo ñ se diferencia muito acabamos todas tendo as mesmas necessidades... 

Bom, tem também essa coisa da tese, né... Pois é, eu tenho um doutorado a fazer... Tenho observado tudo e me surpreendido com muita coisa. Embora aqui seja um país africano, o fato de não estar no continente traz umas particularidades como, por exemplo, alguns cabo-verdianos não se considerarem africanos!!!! A colonização portuguesa aqui é fortíssima, o cristianismo dominou as religiões, não há manifestação de práticas religiosas de origem africana, há fundamentalismo religioso de origem evangélica e uma visão as vezes pouco crítica em relação à escravidão... :(

Por aqui eles gostam muito do Brasil e das nossas novelas, mas acabam acreditando que o Brasil é o que vêem nas novelas e nos programas do tipo balanço geralda Record, que explora o que há de pior e da pior forma e, portanto, acabam acreditando que o Brasil é mais violento do que é de fato... 

Eu tenho tido um pouco de dificuldade com a comida, logo eu que não tenho frescuras com comida, que sempre amei o bandejão da unicamp (saudades, bandeco!)... rs... Tenho comido menos e sinto mta vontade de tomar coca-cola!!! Coisa que quase nunca tomava no Brasil, aqui tomo quase td dia... =/ A carne vermelha é muito cara e não gostei da aparência no supermercado (a rede do melhor supermercado aqui é menor que o dia% do Brasil), então desde que cheguei que não como um bom bife (acho q sou capaz de morder uma vaca se encontrar no caminho, o que é mais comum do q pode parecer)... Em contrapartida já comi muito atum de lata (que é melhor que o nosso!!!) e também fresco! Há tb um chouriço que é parecido com a nossa linguiça calabresa, mas bem, bem mais forte o que já me fez enjoar tb... Os pães são deliciosos e uma das poucas coisas mais baratas que no Brasil - 10 escudos cada!!!

Agora estou me recuperando de uma virose cabo-verdiana que me deixou bem mal ontem.... Devo ter perdido uns 5 kg entre vômitos e diarreia... Mas isso me fez ir em busca de carne e legumes para uma boa sopinha... Nham! 

E até agora é isso, tudo isso!!! Parece que foi ontem que tava indo pra Guarulhos sem saber o que encontraria pelo caminho, mas na verdade já foi há três semanas!!! 

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