Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

domingo, 31 de julho de 2011

RELATOS DE UMA ENDOSCOPIA

Quem já fez endoscopia e tem um organismo minimamente sensível, sabe sobre o que estou falando. Quinta feira, endoscopia agendada para 11h20. A recepcionista me disse que eu deveria estar em jejum de 6 horas para o temido exame e então, se quisesse, poderia tomar um café às 5h da manhã e depois não poderia ingerir mais nada. Jejum absoluto. Fiquei dividida entre minhas sagradas horas de sono – que geralmente passam das 8h necessárias para a maioria da humanidade – ou a necessidade de quebrar um jejum que se estenderia por umas 16 horas. Optei pelas minhas horas de sono.

Fraca, acordei mais tarde que o normal e permiti-me não realizar grandes esforços e dedicar o dia para fazer “coisas femininas”. Depilação em casa mesmo, com aquela maquininha que tira o pelo pela raiz. Sabe se lá se seria preciso tirar a roupa para o exame, não queria me apresentar como a mulher ursa, apesar de reconhecer suas qualidades...

A hora foi passando e o meu humor que já não anda dos melhores, foi piorando um pouco como consequência desse jejum que já chegava às 14 horas... Bom, 11 horas eu estava pronta. Banho tomado, pele de pêssego e uma fome de leão, esperando pela minha mãe que seria minha acompanhante, mais uma exigência do exame.

Na clínica, fui coagida a assinar um termo de responsabilidade pelo exame, apesar de na literatura médica não haverem muitos relatos de problemas relacionados ao exame, fazia-se necessário que eu estivesse ciente do risco. Qual? Também não ficou claro para mim.

Estava tudo atrasado, lógico. E a mistura de fome com ansiedade por não fazer a mínima de ideia de como era possível que inserissem uma câmera até meu estômago sem que eu percebesse foi me deixando uma pilha. No auge da adrenalina, fui chamada. Entro numa sala em que parecia ser possível fazer um transplante de estômago, não apenas uma espiadinha nele, como era o caso.

Mandaram-me deitar e ficar de lado. Estranhei. Sou muito curiosa. Perguntei na mesma hora: “Por que de lado?” Achei a mulher meio fria. Disse-me: Você não vai fazer o exame? Minha vontade era dizer: “Eu perguntei primeiro!” para quebrar aquela tensão, mas para garantir logo que não fariam exame errado, porque sei que câmeras podem entrar por outros orifícios que não a boca, garanti logo: “mas o exame é pela boca, né?” Fiquei mais tranquila em deixar as coisas esclarecidas.

Logo veio a enfermeira com uma injeção para ser aplicada na veia. Ela percebeu minha tensão e passou a ser mais compreensiva. “Esse remédio vai te dar um sono, pode dormir, quando o exame acabar eu acordo você.” Lembro-me de dizer: “estou sentindo meu corpo todo formigar”. Depois disso acordei em outra sala, esparramada numa poltrona, querendo falar sobre a minha indignação porque não conheci a médica. Não sei quem foi a pessoa que introduziu um tubo pela minha boca (assim espero!) que deve ter chegado até o meu estômago.

A memória desse momento foi bastante afetada pelo tal remedinho que me daria sono. Remedinho porreta esse! Fiquei numa embriaguez inexplicável. Tinha a sensação de estar torta e segundo me contaram, pedi e insisti muito para que tirassem uma foto para que eu pudesse ter certeza que estava mesmo tudo no lugar. Também sentia o peso da gravidade de uma maneira muito mais intensa.

Aos poucos fui recuperando a força e meio apoiada consegui ir andando até o carro, que estava estacionado num lugar estratégico, para as vendedoras, parado em frente a uma loja de lingerie, logo eu que sou meio de esquerda, virei à direita, para a loja, claro! Depois de uma boa depilação nada melhor do que escolher lingeries novas. Nesse momento eu já quase conseguia andar sem ajuda. As vendedoras aproveitaram-se um pouco da minha embriaguez e acabei comprando 2 sutiãs + 2 calcinhas para “conjuntar” + 1 top amarelo para ginástica. Pechincha, total. Tudo por um precinho que só dava pra acreditar estando mesmo meio embriagada!

terça-feira, 26 de julho de 2011

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 12

PARTE 11


Pareço um recém-nascido, inchada de tanto chorar. Entreguei-me a esse sentimento de angústia, ansiedade e desespero que tomou conta de mim nas últimas semanas. Decidi sentir tudo intensamente, controlando-me apenas para cumprir com os papeis sociais impostos. Ser mãe, dona de casa e responder “tudo bem” aos que me cumprimentam cordialmente.

Consegui ao menos cumprir com êxito o papel de mãe. Arrumei as malas e despachei as crianças para o acampamento de inverno que elas tanto gostam, para o meu alívio e alívio também do meu sentimento de culpa. Malas prontas, viagem paga no cartão de Victor e lá foram elas, felizes para uma semana longe de casa.

Senti-me livre. Chorei por três dias e passei pelas fases do desespero, da tristeza, da raiva e da agonia por uma notícia que me tire dessa apatia em relação ao mundo. Não consigo aceitar a demissão, não aguento mais a cordialidade irritante de Vitor, não aguento minha vida de dona de casa, enfim, não aguento e não quero mais ser obrigada a aceitar um mundo em que não escolhi estar. Sinto-me colocada dentro de um quebra-cabeça em que não faço parte. Não encaixo mais.

Meu “Dr. Freud” disse que preciso entender o lugar onde me encontro para então buscar o lugar onde quero estar. Sei exatamente onde quero estar, foi o que respondi à ele. E ele lá com aquela cara de “hum” de sempre. Ele me incomoda, mas ao mesmo tempo é bom poder falar descontroladamente por 1 hora sem me preocupar se estou falando d+, ou se estou alugando alguém. Ele está lá exatamente pra isso e é muito bem pago para isso. A fatura do cartão que o diga!

Tive receio em falar sobre isso, porque diferente do que mostram nos filmes, não consigo chegar e sair falando todas as verdades nuas e cruas sobre mim com naturalidade. Mas consegui. Falei a ele que não quero mais encontros levianos também. Senti-me tão ridícula em contar essa história. Não tenho mais vinte e poucos anos e tremer por causa de um encontro com um cara que ainda se veste com bermuda, camiseta, tênis e boné em pleno horário comercial faz com que eu me sinta tão imatura quanto ele. E melhor seria se sua vestimenta fosse mesmo o problema.

Fico confusa com as respostas que “Dr. Freud” me dá. Saio de lá meio atordoada, precisando de um tempo para digerir tudo e absorver alguma coisa que faça sentido. Não sei se tem me ajudado, mas ao menos ajuda a preencher meu tempo ocioso de dona de casa da classe média.

A verdade é que, secada minhas lágrimas, e seguindo o conselho do “Dr. Freud”, preciso mesmo rumar a minha vida. Começo a pensar em recomeçar. Atualizar o currículo, dar um up no visual. Quem sabe um silicone? É, vida nova!

terça-feira, 12 de julho de 2011

A vida inédita pela frente...

"a vida inédita pela frente" Foi o que li no msn de uma amiga...

A beleza e a crueldade do ineditismo da vida... Como avaliar qual é a qualidade mais presente? É preciso saber se o copo está metade cheio ou metade vazio...

Toda vida é inédita. Ponto.

Nasce-se e morre-se. Todos. Esse script é inescapável. O ineditismo está no intervalo. Sonhos, desejos, prazeres, dores, risos, lágrimas, olhares, pulso, ansiedades... Tudo vivido de um jeito único e particular.

E viver diante disso pode ser assustador ou encantador. Assustador porque revela escancaradamente a impotência humana diante da vida, e da morte... Conceitos tão ambíguos que coexistem de maneira tão intrigante.

Façamos então que o ineditismo seja encantador. Que o não saber sobre o amanhã, conduza a um viver intenso do hoje. Afinal, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há... “

domingo, 10 de julho de 2011

FRIDA

Frida tentava retornar à vida de antes, mas quanto mais tentava, mais ficava evidente para si que era impossível. Nada mais seria como antes. Sabia que muito desse sentimento era idealização. Mas era o que lhe restara e por enquanto parecia impossível deixar tudo para trás.

Olhava ao redor e não conseguia parar de pensar em como tudo parecia tão igual, mas com uma diferença que só ela era capaz de sentir. Pensava na vida. E na morte. Na presença da ausência. E em como coisas tão divergentes podiam coexistir tão intimamente.

Buscava por explicações que conscientemente sabia que nunca teria apesar de sua insistência em saber e entender...

Sabia estar num momento pessimista e admitir isso lhe parecia ser um indício de sensatez em meio a avalanche emocional que lhe cegava à razão.

Queira continuar e continuava... Mas ainda não com a mesma alegria. Já não sorria com a mesma emoção, e as lágrimas eram menos teatrais...

Não era o fim de nada. Apenas mais um começo... Só não sentia-se ainda pronta para fazer tudo novo de novo...

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