Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

terça-feira, 30 de novembro de 2010

IGUALDADE - MONOBLOCO



A injustiça vem do asfalto pra favela
Há discriminação à vera
Chegam em cartão postal
Em outdoor a burguesia nos revela

Que o pobre da favela tem instinto marginal
E o meu povo quando desce pro trabalho
Pede a Deus que o proteja
Dessa gente ilegal, doutor
Que nos maltrata e que finge não saber
Que a guerra na favela é um problema social

Eu não sou marginal
Eu só imploro a igualdade pra viver, doutor
No meu Brasil
Que o negro construiu

A injustiça tem o colarinho branco
Usa sapato e tamanco compra tudo que quiser
Tem limusine, avião, BMW
Compra sua imunidade só pra agir de má fé
Enquanto isso os favelados vão sofrendo
E por aqui vou escrevendo
E vou cantando a minha dor, doutor
Indignado com tanta corrupção
Que maltrata os inocentes e alivia o ladrão

Com o tal do mensalão

Eu só imploro a igualdade pra viver, doutor
No meu Brasil
Que o negro construiu

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

RIO DE JANEIRO, ORTEGA Y GASSET, CAPITÃO NASCIMENTO...

Ortega y Gasset, filósofo espanhol, em 1930, disse em seus discursos a estudantes universitários que “a consciência pública, hoje, não sofre outra pressão nem recebe outra ordem que não sejam as que lhe advém dessa ínfima espiritualidade bafejada pelas colunas do jornal. [...] Devido ao abandono de outros poderes o jornalista ficou encarregado de alimentar e dirigir a alma pública [...]

[...] a visão jornalística deforma essa verdade, reduzindo o atual ao instantâneo e o instantâneo ao retumbante. [...] Quanto mais importância substantiva e duradoura tenha uma coisa ou pessoa, o s jornais falarão menos dela e, em compensação, destacarão em suas páginas o que esgota sua essência de ser um “acontecimento” e de suscitar uma notícia.

[...]

É, portanto, questão de vida ou morte para a Europa retificar situação tão ridícula. Para isso a Universidade, como tal, tem de intervir na atualidade, tratando os grandes temas em vigor a partir de seu próprio ponto de vista – cultural, profissional ou científico. [...] há de impor-se como um “poder espiritual” superior diante da Imprensa. (Ortega y Gasset, J. Missão da Universidade. Ed. UERJ, 1999)

80 anos se passaram desde os discursos do filósofo, mas continuam, em pleno Século XXI, contemporâneos os temas de que trata. Defendendo uma reforma de Estado e de Universidade, para formação de um cidadão culto, critica bravamente a influência desvirtuosa da Imprensa.

Ortega y Gasset, século XX, Espanha. José Padilha, Século XXI, Brasil. O que podem ter em comum? O mesmo cenário lamentável de uma Imprensa manipuladora. Basta pensar um pouquinho e tirar suas próprias conclusões.

Achou Tropa de Elite um “puta” filme? Mas e a realidade?

Delirou quando o Capitão Nascimento conseguiu prender os verdadeiros “inimigos” da história? Mas na vida real ainda torce para que os policiais subam lá e matem todos os bandidos da favela?

A Imprensa conseguiu te convencer de que a população está mesmo de acordo com a ação policial? Que população?

Ok. A Unidade da Polícia Pacificadora toma tudo. Está tudo em paz. E quem saiu de lá, vai pra onde? Sobrevive como? Expulsar “o problema” de um lugar é, efetivamente, resolver o problema da violência?

“O inimigo agora é outro.”

“O sistema é foda, e ainda vai morrer muito inocente.” Capitão Nascimento.

E as Universidades, o que tem feito como formadoras dos cidadãos? As que estão na mão do poder público continuam cada dia mais esquecidas e desacreditadas... Para isso não faltam FATECs, PRO UNIs e UNIs qualquer coisa...

“Se um país for politicamente vil, será em vão esperar qualquer coisa de sua escola mais perfeita.” Ortega y Gasset


terça-feira, 23 de novembro de 2010

HOJE NUNCA, UM DIA TALVEZ...

Não tem nada mais furado do que promessa de nunca ou para sempre; juramento, idem; porque quando menos se espera lá está você em situações em que jamais se imaginou.

Você nunca se imaginou saindo na night, bebendo um pouco além da conta e ficando com mais de um cara na mesma noite e ainda era enfática na crítica a quem fazia isso. Passa-se o tempo e lá está você fazendo tudo isso numa tentativa de ser feliz!

Você nunca imaginou viver uma paixão proibida, um amor torto, apesar de já ter gritado aos quatro cantos “Consideraaamos justa toda forma de amooor” e lá está você, apaixonada e mais enrolada que cabelo de anjo idealizado com um cara comprometido.

Abominava sexo casual, achava inadmissível qualquer tipo de traição, seguia os preceitos da igreja e agora tudo isso passa a fazer parte da teoria da relatividade!

A isso chamo crescer, amadurecer e perceber que nada é pra sempre, e que “nunca” é mais mutável que lagarta no casulo.

Por isso é melhor não prometer nada. Não dar garantias pessoais. A garantia pode ser um olhar, um sorriso. A transparência que deixa quem quiser saber o que importa de verdade.

Sem essa de promessas eternas, juras de amor e fidelidade eternos. Porque isso é puro modismo. A indústria do casamento fatura milhões com casais e suas encenações, onde moças mais rodadas que fusca 79 realizando seus sonhos de véu e grinalda brancos com caras mais cafajestes que José Mayer em novela das 8h fazem suas juras de amor eterno.

Uma verdade de cada vez. Não há nada mais verdadeiro que o lema dos alcoólatras anônimos – “Um dia de cada vez” – porque somos humanos, passíveis de mudar uma verdade “imutável” numa esquina qualquer, num esbarrão sem querer, comprando ervilhas num supermercado...

 
"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..."


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 6

PARTE 5

Que dia! Eu ainda estou com as pernas trêmulas. Hoje foi o fatídico dia. Relembrando que há 10 anos, lá estava eu, felicíssima porque, afinal, não ficaria oficialmente para titia, encenando o teatro que mais gira a economia – o casamento –de véu e grinalda brancos.
Eu não sei quem é que teve essa ideia de bodas para cada ano de vida conjugal. Se pensar numa festa de casamento já é um tormento, pensar numa festa para se comemorar anos de casada é um tormento em dobro. Agora não é mais aquela insegurança de que ele não apareça. Agora é o trabalho para ajeitar tudo. Fazer muita coisa em casa para economizar e ainda dar conta das crianças, dos cachorros, da casa, do marido que tentando ajudar, atrapalha.
E foi por isso que acabei tendo que ir buscar os camafeus uma hora antes da festa, e foi aí que começou a grande emoção do dia.
Eu não acredito que ele ainda é capaz de me deixar com as pernas bambas e de me fazer tremer e ficar meio agitada, dizendo coisas sem sentido e gesticulando mais do que qualquer italiano esbravejando.
Que olhar de reprovação é esse? Não tive a menor culpa! Encontrá-lo foi coisa do acaso e talvez seja pra eu repensar meus últimos dez anos. Afinal, de certa forma, foi por causa dele que acabei ficando com Victor, quando Mariá me convenceu que ele era o homem certo pra mim, e não um cafajeste que tudo que conseguia era me dar uns prazeres fugazes e depois me deixar por semanas arrastando correntes.
Foi muito estranho. Aquele esbarrão, ele me chamando pelo meu apelido de 20 anos atrás, aquele mesmo sorriso cheio de dentes de sempre, as gracinhas de sempre. Não tem nada de inovador, e como eu, alguém que gosta tanto de ser surpreendida, pode ainda se encantar com essa personificação da mesmice?
Não! Não que tenha ficado encantada, não disse isso. Mas é que fazia tanto tempo que não o via, que fiquei paralisada. Vieram tantas lembranças. Tantas dúvidas. Aquele “e se” que atormenta você por alguns momentos intermináveis.
Perguntou se eu estava bem. O que estava fazendo da vida. Ah as perguntinhas básicas do socialmente aceito e a despedida cafajeste de sempre – um abraço apertado e um sussuro no ouvido “saudades de você”. Saudades de mim? Como assim? Não devia nem se lembrar da minha existência mais.
Fiquei pensando que ele em nenhum momento disse meu nome, não deve ter ousado chutar para não correr o risco de uma gafe, tenho certeza. Ah sim, ele me chamou pelo apelido. Mas ninguém me chama assim mais há uns 20 anos. Ele mesmo não me chamava mais assim. É, às vezes chamava.  
Fiquei desnorteada. Derrubei a caixa com os camafeus. Quase esqueci de pagá-los. Passei por um sinal fechado e um cara muito grosseiro me disse barbaridades. Quanta incompreensão nesse mundo, meu Deus!
Victor me salvou de parecer drogada com uma surpresa. Assim que cheguei, havia um telão em que ele colocou um vídeo relembrando nossos lindos dez anos de casada. Foi bom porque pude extravasar num choro toda aquela tensão. Ele ficou muito satisfeito. Tinha alcançado seu objetivo. Eu não sabia ao certo porque chorava, mas estava muito tranqüila de saber que Victor jamais desconfiaria que o vídeo era o menor dos motivos. Sim, eu sou uma, uma, uma qualquer!!!!
Ele colocou tudo lá. Algumas fotos do namoro, e isso transcende os dez anos. Noivado. Casamento. Lua de mel. O nascimento dos nossos filhos. Nossos cachorros. As coisas realmente importantes e, devo confessar, soube escolher muito bem a trilha sonora.
Victor ainda consegue me surpreender, mas por que então eu fiquei tão eufórica em encontrar esse cara que eu nem conheço mais e nem sei se um dia eu realmente conheci?
Não comentei nada com ninguém. Respirei fundo e resolvi curtir a festa. Paula, Raquel, Juliana e Pietra vieram. Fizemos nosso brinde dos tempos da faculdade e pudemos rir muito relembramos as tantas festas a que fomos juntas. Lembrar de quando pensávamos nas coisas que faríamos só para ter histórias para contar para os netos. Mas que, por enquanto, não ousamos nem mesmo contar para os nossos filhos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE. E AGORA?

Não exatamente especialista porque apenas conselhos de classe podem conceder um título de especialista, o que não é o caso de Educação em Saúde, mas pós-graduada (latu senso) em Educação em saúde! É, mas usualmente usa-se o termo especialista, e, ok!

E, apesar dos pesares, é claro que depois de 18 meses de curso há de haver alguma mudança significativa. Foram 16 módulos em 34 aulas (mais ou menos) compartilhadas com diversos profissionais da área da saúde e humanas, e talvez o maior aprendizado tenha sido meu despertar para a realidade da população brasileira tão carente de Educação e Saúde, não que seja novidade, mas conhecer a realidade de famílias na Grande São Paulo vivendo em condições precárias de higiene, que desconhecem saneamento básico, não conhecem banheiro e ao tê-lo não sabem usar, sim, há pessoas muito próximas que não sabem como utilizar um vaso sanitário! Isso sim foi novidade, uma triste e surpreendente novidade sobre a realidade. Porque nós, paulistas temos a pretensão de pensar que essa é a realidade apenas do interior do norte, nordeste...

Parar para estudar sempre acende o alerta para mais problemas e com uma temática dessas – Educação em Saúde –, num país de desigualdades sociais como o Brasil, é quase uma busca por problemas que parecem, muitas vezes, insolucionáveis. Jovens iletrados; adultos analfabetos; formação superior mercadológica, acrítica; descaso político; violência – contra crianças, adolescentes, mulheres, idosos... Desesperador! Mas reconhecer profissionais empenhados em transformar essa realidade é confortante e reacende a crença no ser humano como instrumento de mudança social.

O fim de uma empreitada sempre traz reflexões, o famoso filminho que passa pela cabeça. A empolgação e o entusiasmo dos primeiros dias. As tantas vezes que me vi perdida na Capital. Novas amizades, cumplicidades conquistadas. O desencanto. A reavaliação sobre a crítica. O desejo de chegar até o fim. Chegar até o fim, olhar para trás e poder, mais uma vez, dizer que “Valeu a pena”!


Mas e agora? Agora fica o desejo de continuar. E o medo de falhar. A necessidade de encontrar um caminho e tentar ser o beija-flor que ajudará a apagar o incêndio. Entender que uma andorinha pode até não fazer verão, mas ao menos anuncia sua chegada.
 
PARABÉNS TURMA DE ESPECIALIAÇÃO CEDESS/UNIFESP 2009-2010!!!


terça-feira, 2 de novembro de 2010

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 5

PARTE 4

Não sei se foi o início da primavera, mas tenho me sentido mais animada e estou empolgada com a história das bodas. Acho. Acho sim tudo um grande teatro social, mas sempre gostei de teatro mesmo, não desse tipo, é verdade, mas às vezes é importante saber se divertir com o que se pode ter, então estou tentando me divertir.
É, nem tudo é divertido. Só de pensar em organizar tudo já fico cansada. Mas olho pra minha família e vejo que tenho muito que comemorar. Foram dez anos incríveis. Construímos muita coisa juntos. E nossos filhos, apesar de ter hora que eu tenha vontade de espremer um na mão, eles são a maior riqueza que eu poderia ter na vida. E eles estão numa empolgação só.
É engraçado vê-los querendo saber como Victor e eu nos conhecemos, e o ideal romântico deles ainda completamente arraigado às conveniências sociais. “E aí você ajoelhou e pediu a mamãe em casamento, papai? A Júlia perguntou. Se ela soubesse que ficamos noivos mais bêbados que gambás numa aposta de pôquer entre amigos.
Mas Victor com aquele olhar sarcástico dele, que criança ainda não percebe, “Sim, Júlia, comprei um anel caríssimo pra sua mãe, colhi flores do campo, peguei um cavalo branco e fui até a casa dela pedi-la em casamento.” Caímos na gargalhada. As crianças não entenderam, mas riram juntas. E o Pedrinho, tão ingênuo: “E o que você fez com o cavalo quando a mamãe disse sim?” “Ele fugiu!”. E nesse momento conquistamos aquela cumplicidade no olhar que eu nem lembrava que tínhamos.
Foi besteira minha dizer que não sabia se o amava. É que agora é tudo diferente. Depois de dez anos as coisas mudam e é difícil acompanhar a mudança no ritmo que a vida está.  Olhá-lo inventando histórias de conto de fadas sobre a gente para as crianças, brincando com os cachorros. Não podia ser melhor. É, podia. [risos] Ele poderia se lembrar que eu não gosto dos pães moreninhos, mas ok, ninguém é perfeito.
Você notou, né? Ele não incomoda mais meu tempo com você. Expliquei a ele que eu preciso desse tempo. Não contei do nosso “caso”, lógico. Não que ele fosse ter ciúmes de um espelho, mas gosto de pensar que tenho um segredo. O quê? O primo da Guida? Isso não é um segredo efetivo porque não aconteceu nada. Não tenho a menor culpa se ele lança olhares carnívoros sobre mim. Então agora eu preciso contar a ele sobre cada cara que me olha mais incisivamente?
Talvez essa onda de bom humor, com direito até a contos de fadas, seja fruto de uma grande bola fora dele. Ele teve a pachorra de me perguntar se eu queria colocar silicone de presente de bodas!!!!!!! Como assim?!?!?
Olhei fixamente para ele e disse “QUÊ?!?!?!?!?!?!?”
Ele deve ter achado que eu estava muito feliz com o presente e me disse sorrindo: “Se você quiser, eu pago. Fechei um negócio muito bom essa semana na empresa...” Nem o deixei terminar “Ah então você não está satisfeito? Quer uma dessas mulheres turbinadas com 500 ml de silicone, é isso? Porque se for isso, pode ir procurar uma dessas mulheres frutas que se você espremer vaza silicone por todos os poros...” Não sei por que tive essa reação, mas ele nunca mais tocou no assunto.
E olhando bem, talvez eu não precise mesmo. Acho um horror não saber envelhecer. Sempre disse que queria ser uma quarentona jovem, mas consciente de que era uma quarentona.
Lógico que fiquei encanada. Será que ele está insatisfeito? Por que qual outro motivo de um marido oferecer um par de silicones para a esposa? Pensei nisso por uns 3 dias sem parar. Comentei na terapia. Contei para minhas amigas. E ainda não cheguei a uma conclusão convincente do que isso possa significar.

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