e de repente é a vida que me atropela. 13. não sei se é meu número da sorte ou do azar. da primeira vez foi uma moto. "você nasceu de novo, disseram alguns." da segunda, foi só a vida e suas peças inexplicáveis, foi aquela terça feira modorrenta que veio com coisas que nunca passaram pela minha cabeça e me pegaram no ponto fraco... o pé, não mais quebrado, ainda lateja e me deixa manca. mas a vida me acertou em cheio em cada parte do meu corpo. de cada função vital. o peito que sufoca. o coração que acelera. as pernas que bambeiam. a fala que trava. gagueja quando não deve. o estômago que revira. as bochechas que coram. o sono que se vai. o riso que brota fácil. as lágrimas que transbordam o que não cabe mais só dentro de mim.
Para que serve a utopia?
"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
sábado, 5 de maio de 2018
Diário de professora
De repente, era tudo novo de novo. O sorriso no rosto não deixava esconder a alegria em estar de volta ao chão da escola e agora, na escola que mais acreditava - a escola pública. Finalmente eu havia chegado exatamente onde devia estar...
Foi assim que no dia 15 de março minha vida girou 180º e passei a ser novamente a Professora Mirian! Como gosto de ouvir isso... Não sei se por ego, vocação (coisa q não acredito) ou por carência, mas adoro o som: "Professora Mirian".
Mas nem tudo são sorrisos e músicas para o ouvido na escola, seja ela pública ou privada. Recomeçar, após 4 anos longe da sala de aula foi uma loucura: mudança de rotina, novos desafios, de todos os tipos, e a cabeça a mil pensando em como cativar, como conquistar, como ensinar português, matemática, ciências, história e geografia de forma significativa... O que é significativo para crianças de 9, 10, 11, 12 anos com realidades tão distantes da que eu vivencio?
Como alfabetizar o menino que há pouco tempo voltou a escutar e não descuidar das outras 27 crianças com diferentes necessidades? Como lidar com a criança que agride a mim, aos colegas e à gestão de forma física e verbal, sabendo que é uma sobrevivente num território de abandono, violências e pobrezas (de todos os tipos)... Dá nó na cabeça e, pior, no coração.
Sempre "militei", bem entre aspas mesmo, porque nunca me considerei uma militante como acredito que se precisa ser, pelas causas sociais, mas sou aquela militante de internet, que lê, escreve e posta muito no facebook lamentando as desigualdades todas que assolam a sociedade dentro desse capitalismo selvagem...
Mas agora, cá estou, de frente com a realidade sobre a qual li e escrevi muitas e muitas vezes. Da qual já me exaltei em discussões acaloradas com quem não consegue perceber a realidade para além do próprio umbigo classe média. A percepção do tamanho da impotência sobre estruturas que oprimem me revelaram uma humanidade avassaladora que chega a doer de tão humana.
Revisitei tanta coisa em mim, da minha formação, das experiências passadas e foi um choque me perceber mais tradicional e conteudista do que imaginava e, então, busco me reconstruir, sem perder o que importa, mas sempre questionando muito sobre o que realmente importa... tenho me atentado à importância da liberdade das crianças, da não vigilância como controle, dos corpos livres, do brincar. A escola pública está me sendo a melhor escola para a busca de uma educação, de fato, libertadora, mas não tem sido nada fácil... . Esse exercício é ora prazeroso, ora bastante doloroso... Difícil romper barreiras tão bem alicerçadas, que a gente descobre não servir pra muita coisa, além do controle... mas tenho seguido tentando, aprendendo mais que ensinando, errando e acertando...
Foi essa realidade que me fez ver, na prática, a importância do capital cultural para o desenvolvimento integral da criança. A escola, sem uma reforma tributária, sem reforma agrária e com essa desigualdade social escandalosa que assola o país não será a salvação das crianças, como insistem em romantizar alguns, uma vez que a escola sozinha não dá conta de acabar com a opressão, com a miséria, com a violência vivenciada por tantos estudantes nas 19 horas em que não estão na escola. E digo isso de um lugar de privilégio: não posso reclamar do meu salário e benefícios. A sala de aula onde atuo - e todas na escola - tem notebook, data show e rádio. As crianças almoçam ao chegar na escola e tomam lanche no meio do período. Trabalho com professores muito bem qualificados, com formações sólidas, muitos com pós-graduações, mestrados e doutorados e engajados em promover uma educação significativa. Trocamos experiências, ideias e reflexões. Reflexões que nos levam a entender que a escola pode sim ser um instrumento poderoso de mudança social, mas apenas um, diante da necessidade de tantos outros.
Já passei por três escolas particulares. Em nenhuma tive condições de trabalho como as que tenho agora - do salário às condições concretas em sala de aula. Enquanto minhas condições materiais de trabalho mudaram para melhor, inversamente, a condição socioeconômica das crianças são, geralmente, inferiores à das crianças das escolas particulares. Assim, chega-se a óbvia constatação: é a realidade a que são submetidas as crianças nas 19 horas que estão fora da escola que impactam significativamente seu desempenho escolar, não o contrário.
Assim, compreendi que lutar pela educação só faz sentido se lutarmos por igualdade socioeconômica. Sabe por que a Finlândia é o sucesso que é na educação? Porque lá não tem criança passando fome. As crianças lá vão à escola para estudar, não para, primeiramente, comer, como muitas aqui. Nos EUA, onde a desigualdade também persiste, a educação tem seus graves problemas também. Não adianta frases e discursos sobre o poder transformador da educação se nada for feito nessa sociedade que acredita que riqueza e pobreza estão atreladas à meritocracia. A educação só será democraticamente transformadora quando comer e morar dignamente deixar de ser privilégio, todo o resto é demagogia.
Apesar disso, continuo com Paulo Freire para quem a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas. Apesar de tantos reveses, é isso que estou tentando fazer: mudar pessoas.
domingo, 18 de fevereiro de 2018
História Cruzada
Ele só tinha 20 anos. Morto. Assassinado. Não foi assalto. Ele era o que a polícia chamava de “suspeito”. Morador de favela, não teve tempo de pegar sua carteira e apresentar os documentos. Como ‘cidadão suspeito’ não devia ousar colocar as mãos no bolso sem avisar que pegaria a carteira ao ser abordado pelo policial. Isso o tornou ainda mais indigno de qualquer dúvida sobre seu caráter. Sua cor e seu endereço tornavam-no automaticamente um suspeito perigoso. Era estudante e trabalhador, há pouco tempo havia conquistado uma vaga como estagiário num escritório pelas notas altas que o destacaram na turma. Sonhava terminar o curso na faculdade que conseguiu ingressar graças “às esmolas que o governo dava pra essa gente que não se esforça”. Ansiava pelo diploma de advogado para lutar contra as injustiças sociais, como essa que o vitimou fatalmente.
Enquanto tiros findavam mais um sonho, do outro lado da cidade, onde se tira selfie com a polícia, Matheo, um outro rapaz, também de 20 anos gostava de fumar, só para relaxar e desestressar das cansativas aulas da cara universidade que seus pais bancavam. Com o emprego garantido no escritório do pai, não havia porque se importar com notas altas. Fazia o suficiente. O carro, presente por ter passado no vestibular, fora roubado recentemente e Matheo então comemorou a intervenção federal militar. “É preciso acabar com a farra dos bandidos”, repetia em tom nobre, como o lugar destinado a Matheo desde o berço. Sentia-se aliviado e um pouco mais seguro ao ouvir no noticiário que mais um “bandido” havia sido assassinado: fora Ele, o rapaz sem nome, jovem sonhador, recém-contratado estagiário no escritório do pai de Matheo, mas no jornal do horário nobre, apenas um “suspeito que trocou tiros com a polícia” ainda que estivesse desarmado.
No país da democracia racial, dos “antagonismos equilibrados” e da meritocracia, evidente que as histórias nada têm a ver com desigualdades raciais e sociais. Além do mais, são só “estórias”, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
"Não tenho provas, mas tenho convicção"
Uma pessoa me disse que há tempos não encontrava com alguém que defendesse Lula. Não me assusta, embora me entristeça a afirmação. Sei que faço parte de uma minoria que não se deixou contaminar pelo ódio cego que quer "Lula na cadeia". Mas muitas foram as minorias que defenderam tantos outros que sofreram na convicção de uma maioria enfurecida.
Foi assim com os judeus no Holocausto. Quantos ousaram defendê-los e quantos foram os que defenderam a perseguição, o campo de concentração, a morte a tortura sob a alegação de serem o mal da nação alemã?
Foi assim com os africanos escravizados. Quantos se compadeceram? Quantos lutaram pela liberdade e por condições dignas de existência dessas pessoas?
Foi assim com Nelson Mandela que lutou por uma África do Sul mais equânime.
E foi assim também com Jesus Cristo que ousou distribuir peixes e pães a quem tinha fome, andou entre pobres e doentes, perdoou e abraçou a prostituta e entrou quebrando tudo no templo quando quiseram fazer de Deus um comércio... CRUCIFICA-O!!! Foi o que recebeu em troca de suas atitudes.
Foi sempre uma maioria enfurecida e/ou interessada em defender seus próprios interesses a responsável pelas maiores barbáries que temos na História. E ainda assim, seguimos repetindo os mesmos erros.
Lula foi condenado em Segunda Instância ontem, 24/01/2018, pelo TRF4, tendo ainda sua pena aumentada de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês de prisão.
Não há surpresa, assim como não há provas, mas sobra convicção. "Não temos provas, mas temos convicção." Foi assim que tudo isso começou, sob a comemoração de muitos que, alienados diante de uma mídia que plantou ódio contra aquele que, dentre tantas outras coisas, levou energia elétrica a muitos brasileiros e brasileiras pelo programa luz para todos, construiu 18 novas Universidades federais, fez o salário mínimo ter aumento real, tirou o país do mapa da miséria.... coisas que, para a rede Globo (essa que sonega milhões aos cofres públicos) e cia não são importantes e, assim ela fez muita gente que comprou carro com IPI reduzido, que cursou Universidade, seja nos novos campi, seja pelo Pró Uni ou FIES, que viajou de avião pela primeira vez, vociferar bravamente contra Lula.
"Lula na cadeia!", "Ninguém deve estar acima da justiça", esbravejam outros, mas se calam diante dos engavetamentos das tantas denúncias comprovadas com áudios e malas de $$$$$ de outros políticos. Iconicamente, no mesmo dia em que Lula é condenado, José Serra escapa, mais uma vez, ileso das acusações.
Contra fatos não há argumentos. O cenário desenhado apenas evidencia um ódio plantado que já se enraizou. Um ódio irracional e parcial. Não há provas. Mas há ódio e convicção e, assim, desde 2016, vemos nossa Constituição ser rasgada num processo que fere a democracia como já denunciaram tantos intelectuais, artistas e mídias internacionais.
A insanidade odiosa é tamanha que vale dar autoria de textos a Marieta Severo, historicamente defensora de Lula. Vale apoiar o texto que coloca entre os seus crimes, pagamento de pão e mortadela a seus militantes e simpatizantes. Vale a mentira descarada para justificar o ódio.
A insanidade odiosa é tamanha que vale dar autoria de textos a Marieta Severo, historicamente defensora de Lula. Vale apoiar o texto que coloca entre os seus crimes, pagamento de pão e mortadela a seus militantes e simpatizantes. Vale a mentira descarada para justificar o ódio.
Desde o golpe contra Dilma Roussef, assistimos estarrecidos a perda de direitos: o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, considerada a "PEC do fim do mundo"; "Reforma trabalhista" e agora a corrida para a compra de votos para a "Reforma de Previdência", apesar do Relatório indicar que a previdência não é deficitária. Todas essas medidas afetam diretamente a vida do trabalhador e da trabalhadora que terá cada vez mais educação e saúde públicas sucateadas, fim do aumento real do salário mínimo, condições de trabalho degradantes; e praticamente a impossibilidade de desfrutar de aposentadoria.
Era muita ingenuidade pensar que após o golpe de 2016, os abutres que assaltaram a nação permitissem uma eleição limpa e democrática em 2018. Há muito o que vender para os gringos até que nos tornemos novamente colônia de algum país imperial. O Brasil não é mesmo para principiantes.
Com a condenação de Lula, perdemos todos. Se são capazes de fazer isso com o maior estadista que o Brasil já teve, imagina o que poderá ser feito contra qualquer anônimo cidadão se houver simplesmente convicção?!? Dia triste para quem, possa até não gostar de Lula, mas sabe que democracia e justiça deveriam estar além de afetos e desafetos políticos.
O golpe segue seu curso.
#CadêAsProvasContraLULA
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