Começou pequeno, com uma, duas, três escolas ocupadas… Agora, já são quase 200 escolas estaduais ocupadas por estudantes que lutam para garantir o direito – constitucional – à educação.
Lutam porque o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), impôs um projeto de reorganização das escolas estaduais que, dentre outras coisas, pretende fechar 94 escolas no próximo ano, para começar.
Acho “engraçado” os termos utilizados em São Paulo: fechar escola é reorganização e racionamento de água é rodízio. Termos sutis, mas que na prática ferem a cidadania da parte da população que muitos parecem, ou preferem, não sei, ignorar a existência.
Além do fechamento, o projeto prevê a reestruturação das escolas em ciclos com o argumento de que escolas com apenas um segmento têm melhores desempenhos nas avaliações, mesmo sem nenhuma comprovação de tais dados.
Estudantes, professores, famílias, comunidades acadêmicas, a sociedade enfim, já se posicionou contrária à reorganização porque não há argumentos que convençam que o fechamento de quase uma centena de escolas possa ser uma ação em prol da educação.
O argumento de que há salas ociosas, além de ser um argumento falso – alguém, por favor, aponte-me uma sala com menos de 25 alunos na rede estadual – vem de uma ideia de educação em formato fabril em que o estudante deve entrar na escola para estar em uma sala de aula, ouvir, de preferência sem questionar, e sair de lá assim que o sinal toca, passando os níveis seriados após provarem terem aprendido sobre todas as regras e conteúdos – que pouco servirão para uma vida em sociedade.
É a ideia de uma escola fria, que enxerga no aluno uma folha em branco que colocado numa esteira de fábrica receberá as peças que faltam em cada etapa do processo até sair de lá pronto para perpetuar o sistema. Ignora-se assim que a escola deveria ser o espaço da convivência e da sociabilidade antes de tudo.
Se o excelentíssimo governador estivesse, de fato, preocupado com a qualidade da educação, pensaria em ocupar as ditas salas ociosas com salas para estudos, salas temáticas, além do óbvio: diminuir o número de estudantes por sala, garantindo possibilidades reais para os professores realizarem um bom trabalho.
O que se esconde atrás desses argumentos não convincentes é a política de desmantelamento da educação pública para levar à população a crença de que a privatização é o caminho e, assim, desresponsabilizar o estado de garantir educação pública, gratuita e de qualidade – o que economizaria alguns bilhões.
Mas os estudantes – esses vândalos que ocupam escolas (?!?!) – cansaram de ouvir e obedecer. Assumiram o controle da educação e vêm dando uma lição de cidadania ao ocupar as escolas com uma organização de dar inveja a muito empreendedor e resistindo contra uma política instituída de ignorar que educação de qualidade é direito, não favor. Resistindo contra uma polícia que deveria proteger, mas que ataca com cassetete e spray de pimenta estudantes que lutam para ficar na escola.
Apesar disso, resistem. E o movimento segue. E cresce por todo o estado. As primeiras vitórias já aparecem na suspensão da reintegração de posse das escolas ocupadas e no recuo ao fechamento de duas escolas – nos municípios de Piracicaba e Santos.
Esses estudantes transformaram, até agora, quase duas centenas de escolas em ESCOLA DE LUTA! A melhor escola da e para a vida. Que nos sirva de lição e ative em nós a utopia juvenil necessária para aprender.
Disponível também em: http://jnovocontexto.com.br/escolas-de-luta/