Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Consciência Negra e Educação.


Disponível em; http://jnovocontexto.com.br/consciencia-negra-educacao/

No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra, criado em 2003 e instituído em âmbito nacional mediante lei em 10 de novembro de 2011. A data refere-se ao aniversário de morte de Zumbi, assassinado após resistir à escravidão por muitos anos no Quilombo de Palmares.
A lei é recente e a falta de noção histórica – ou canalhice – de parte da população faz emergir todo ano a falácia de que não precisamos de um dia da consciência negra, mas de um dia da consciência humana, repetindo a ideia falaciosa de que somos todos iguais.
Há ainda os mais ousados que pedem por um dia da consciência branca. Consciência branca pra quê? Qual o sofrimento imposto para a população branca? Quantas vezes você foi barrado de entrar em algum lugar por ser branco? Quantas vezes a polícia te abordou como suspeito? Quantas vezes o táxi vazio não parou para você? Quantas vezes você teve seu cabelo desmerecido pela textura? Consciência Negra e Consciência Branca não são um binômio complementar.
É preciso Consciência Negra para deixar de ignorar os mais de 300 anos de escravização da população negra, sequestrada de suas terras, embarcada a força em barcos com condições sub-humanas e vendida como mercadoria aos senhores. Homens e mulheres escravizados e que construíram com suor e muito sangue um país para brancos usufruírem.
É preciso Consciência Negra porque a tortura, exploração e mortes negras durante mais de três séculos não foram suficientes para se pensar em Direitos Humanos, pensado apenas após o horror do Holocausto.
É preciso Consciência Negra para refletir sobre a Lei Áurea que tirou os negros da senzala, para colocá-los a mercê da sociedade, desempregados, proibidos de frequentar escolas e de exercer as principais atividades remuneradas que realizavam, não por descuido, mas por política instituída que buscou branquear a população com a implantação de cotas para europeus virem ocupar o trabalho – que passava a ser remunerado – dos trabalhadores negros.
É preciso Consciência Negra para se sensibilizar com os atos de racismo diários, que nada têm de mal entendidos.
É preciso Consciência Negra para acabar com o achismo de que o passado nada tem a ver com a história atual e entender as políticas de ação afirmativa que visam reparar as injustiças históricas sofrida pelo povo negro,
É preciso Consciência Negra para que as escolas tornem-se o espaço privilegiado para discutir as questões raciais, se não por iniciativa, por cumprimento à Lei 10.639, política de ação afirmativa instituída em 2003 que altera a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) e torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana tendo em vista valorizá-las, enfrentar o racismo e as discriminações para uma nova relação étnico-racial.
É preciso Consciência Negra para que essa Lei deixe de ser ignorada por grande parte das escolas: públicas e privadas.
A lei é fundamental para ensinar sobre a grandiosidade da África e seus 54 países, ricos em história e cultura. Para entender que não há escravos, mas seres humanos, escravizados em diversos contextos, mas que no capitalismo atingiu o ápice da crueldade humana em fazer do escravismo uma prática comercial cruel, impossível de se conceber até mesmo para animais. Para localizar o Egito como um país africano e apresentar Cléopatra como a rainha negra que foi, dentre tantas outras rainhas e princesas negras de países africanos.
A lei é fundamental para que a representatividade do negro no livro didático não esteja apenas no povo escravizado ou no Saci-Pererê, atores e personagens representados com valores de pouco orgulho para crianças negras. Para romper com a educação eurocêntrica que ignora a diversidade de cores e texturas, acabando de vez com a ditadura do cabelo liso e com o racismo perverso que coloca o cabelo crespo como feio, duro e ruim, adjetivos que deveriam servir apenas para acompanhar o substantivo démodé “racismo”. Para acabar com a ideia de que aquele lápis de cor rosinha desbotado é o “cor de pele” que não é a cor de pele de ninguém.
A lei é fundamental para que, por meio da educação, possamos construir uma sociedade em que um dia, de fato, não precisemos de um Dia da Consciência Negra. Porque, no cenário atual, acreditar que “Consciência Humana” basta, é tão ingênuo – para amenizar – quanto acreditar em coelhinho da páscoa e papai Noel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores