Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

José Lenin



Quando naquele 2 de abril eu fui te adotar, Lenin, e tão logo você se levantou na caixinha, se destacando dos seus irmãozinhos gatos, peguei você no colo e não larguei mais. Nunca te disse isso, mas não larguei por vergonha da minha covardia. Naquele hora senti um medo tão grande que tomou conta de mim. Olhava pra você, ainda tão pequeno e frágil, com miado baixinho e pensava se seria capaz de cuidá-lo bem. Fico pensando se isso foi presságio da angústia de agora.

O tempo foi passando, você foi crescendo e o medo passando. Parecíamos uma duplinha perfeita no nosso lar doce lar que você enchia de pelinhos e brinquedos por todos os cantos. Não foi difícil te alimentar, dar água fresca, abrir a torneira quando você queria beber água corrente e até mesmo dar os remédio que você precisou. Até dia 26, a maior angústia tinha sido a espera durante a sua castração, mas logo veio o alívio de vê-lo acordando bem e estar 110% no dia seguinte, subindo por tudo e pulando por cima de mim.

Eu não conhecia muito os gatos. Não sabia q você roeria meus fones de ouvido, carregadores e arrancaria todas as borrachinhas que tampam os parafusos da minha escrivaninha. Não sabia que você tentaria beber água do vaso sanitário, que ia miar pra pedir um pouquinho de requeijão na colher e querer lamber a lata de cerveja toda vez que eu pegasse uma latinha. Você era mesmo parça! Não sabia que, oposto ao que todos dizem, seria tão apegado a mim, estando sempre à minha espera na porta, não importava o tempo que eu tivesse ficado fora, me acordando de manhã com miadinhos suaves, me amassando como um pãozinho (ou nem tão inho assim), ficando nos meus pés enquanto eu escrevia a fórceps a tese de doutorado e ficando na pia ou no vaso sanitário a me observar enquanto eu tomava banho. Depois de você eu não morava mais sozinha, tínhamos um lar!


Até que na última terça feira, dia 26, você decidiu dar um rolê – meu amor por você, Lenin, te queria livre também, jamais considerei deixa-lo aprisionado em um micro ap. sem poder ter contato direto com o sol ou com a natureza – mas dessa vez o rolê se estendeu. Até agora você não voltou e o meu coração está tão apertado que parece que vai explodir a qualquer momento. A angústia da espera e do não saber se você comeu, se está machucado, se tomou água... Mais um desses silêncios ensurdecedores pelo barulho perturbador que fazem dentro do coração.

Lenito pequetito, vc me fez tão feliz!!! E quero ser grata apenas por ao menos já ter vivido esses 6 meses de descobertas e alegrias com você. E não vou me despedir por ora. No meu coração e aqui em casa sempre terá seu espaço para se você puder e quiser voltar!!! Mas tudo o que eu mais quero é q você volte, de qualquer jeito, pra eu te encher de amor e comidinhas gostosas! Vou seguir te esperando, com a porta e o coração escancarados, e ainda que não seja nessa vida, qualquer dia desses eu volto a te encontrar...


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Resposta a Ana Paula Henkel

Ana Paula, já torci tanto por você. Já vibrei por seus pontos e conquistas na quadra de vôlei, mas agora tem sido difícil. Sim, eu preciso trabalhar mais a minha tolerância também, mas penso que seria negligência da minha parte ser tolerante com a desonestidade intelectual que você usa a sua coluna “Ultraconservadores do mundo, uni-vos!”. 



Concordo que há muitos “engajados”, como você mesma nomeia, que praticam da mesma intolerância que criticam. Problemas dessa polarização que nos metemos e que precisamos superar com debates sadios e qualificados, nos quais argumentos sejam mais importantes que adjetivações. 

Sim, eu entendi a ironia no seu texto. Ironia que você usa, repito, com muita desonestidade intelectual. Para começar, você como tem se mostrado muito bem informada sobre os temais do debate, deve saber que “homossexualismo” é palavra em desuso porque o “ismo” se refere a ideologias e patologias, o que não representa a homossexualidade que, ponto comum na ciência, não é doença. 

Outro ponto que me intrigou é saber de onde você tirou essa tal “ideologia da data de nascimento”? De novo, sim eu entendi a ironia e a analogia, mas de novo, Ana Paula, você demonstra um grande desconhecimento sobre as pesquisas da área ao buscar a analogia com a Ideologia de gênero, coisa que não existe. Existem estudos sobre gênero, essa construção social que nos impõe em papeis sociais simplesmente por nascermos com vagina ou pênis. Essa construção social que mata em média 2 mulheres por dia por homens que se sentem seus donos – coisas do machismo. Bom, mas voltando ao seu texto, você usa da sua analogia de forma tão desonesta, imputando a quem te critica uma verdade que não existe. A ideia de defender os direitos da criança é uma forte bandeira de quem estuda gênero, por exemplo, olha só! Aliás, esse mesmo povo que você critica, é contra a redução da maioridade penal, por acreditar que não é enjaulando seres humanos, ainda em fase de desenvolvimento que resolveremos o problema da violência. Gostaria também de saber qual seu engajamento em casos de pedofilia nas igrejas e templos? Você pede para fechar também? Boicota? Talvez – hipótese – fosse sobre isso que os jacobinos, esses que você critica, falavam. 

Num outro ponto concordamos: a exposição poderia ter uma indicação etária. Proposta defendida pela Manuela D’Ávila, deputada estadual pelo PCdoB, esse partido de gentalha de esquerda, sabe? Não vou entrar no mérito sobre o que é arte ou não. Não me sinto habilitada para tal. Mas, por enquanto, sei que a minha liberdade me permite ver ou não ver uma exposição. Gostar ou não gostar, mas nem por isso impedir toda uma sociedade de que veja ou não algo a partir do meu gosto, pessoal. O mundo gira além do nosso umbiguinho, não é mesmo? 



Por fim, adoraria poder ver o socialismo que você diz que começa com a socialização dos filhos – ironia, eu sei!!! – mas o que tá rolando mesmo, Ana Paula, é socialização da censura, professores que estudaram anos e anos para ensinar e explicar fatos históricos, construções políticas e ideológicas – esta palavra assustadora que parece coisa da esquerda, mas que apenas significa conjunto de crenças, valores e culturas – estão sendo chamados de doutrinadores, enquanto Alexandre Frota, Zezé de Camargo e militares são as vozes a ditar sobre educação, política e sociedade.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Quando um homem estupra uma mulher, ele estupra, ainda que emocionalmente, muitas mulheres ao seu redor. A cada novo caso o sobressalto: podia ser eu! Essa sensação se amplia drasticamente quando o agressor é um amigo, o cara do rolê, aquele com quem você dividiu confidências, aquele que você acolheu no machismo que ele buscava desconstruir; aquele em quem você acreditou que poderia confiar para empenhar a luta por um mundo melhor.
Quando um homem estupra uma mulher, ele fere muitas outras. Ele mostra que estamos ainda mais vulneráveis do que acreditávamos estar. Ele mostra que o discurso de desconstruidão feminista não nos garante segurança, não nos garante nada.
Quando um amigo estupra uma mulher, ele coloca o nosso feminismo à prova. Ele nos joga na cara a complexidade das ideologias e dos coletivos.
Quando um homem, um amigo, estupra uma mulher ele nos mostra que o feminismo é necessário e precisa, antes de tudo, ser uma união de mulheres, de nós por nós, porque nos enfia goela a baixo o gosto amargo de saber, de fato, que "todo homem é um estuprador em potencial".

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