Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 10


Fazia tempo que meu coração não batia tão forte. Por que é que de repente tantos clichês estão fazendo sentido na minha vida? “Quando você acha que tem todas as respostas, vem o mundo e muda todas as perguntas”.
Eu estava decidida de que Victor era realmente o homem da minha vida. Meu emprego não era o emprego dos sonhos, mas era estável. Sim, eu parecia finalmente estar realizada e agora essa avalanche que arrasta a estabilidade recém-encontrada. Desempregada, com um certo asco daquele olhar de homem paternalista do Victor e com o coração com ataque de estupidez, querendo disparar por um cara que não merece nem um canto de olhar.
Foi por acaso. Estava perambulando pelo shopping com as crianças, já que agora meu tempo ocioso me permite esse luxo, e quem é que aparece? Ele! Novamente ele, com aquele sorriso cheio de dentes. Derrubei uma pilha de ursos pelúcia de susto, de medo, sei lá. Tentei fingir naturalidade, mas não sei se convenci pela pressa com que chamei as crianças dizendo que precisávamos ir embora.
Foi aí que ele me surpreendeu, de uma forma previsível, mas surpreendente. Me pegou pelo braço e disse “Você está linda! Que saudades de você.” Tremi inteira e para fugir da situação dei um grito com Paulinho, mas não sei ao certo o porquê. Disse que estava com pressa, e ele “a gente podia se ver, pra conversar...” Saí dizendo vários “sins” e esquecendo exatamente o motivo de eu estar ali, comprar o tal presente de aniversário para o amigo do Pedrinho.
Teria sido a saída perfeita não fosse a Júlia gritar “Manhêêê e o presente pro Pedrinho levar no aniversário?” Sorte minha ele ter tido a descrição de já estar saindo da loja. Com direito a um sorriso cafajeste com piscadela. Ahhhh!!!
Deixei Pedrinho escolher um brinquedo caríssimo. Deixei? Na verdade quando me dei conta do valor já era tarde demais e então, para não parecer ainda mais desequilibrada, deixei. Passei no cartão do Victor. Pronto. Agora estou no cenário perfeito para as piadinhas machistas sobre mulheres consumistas gastando o salário dos maridos no shopping durante a semana. E nesse momento isso era o que menos me atormentava.
Resolvi liberar um sorvete numa quinta feira antes do jantar. Eu precisava esfriar a cabeça, mas quanto mais parada, mais eu pensava e mais atormentada e confusa eu ficava. Por que é que esse cara tinha que ressurgir justamente agora? E por que é que ele continuava tão charmoso?...
“Você está estranha, mamãe.” o Pedrinho disse, achando muito divertido ver o sorvete derreter todo na minha mão.

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