Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 18 de março de 2016

EDUCAÇÃO PARA A BARBÁRIE

Meu filho meu maior orgulho... Gui se manifestando em sua aula de artes... Vamos para as ruas domingo, vamos lutar por um país digno para nossas crianças” texto seguido de #forapt #foradilma #vempraruabrasil. Abaixo o desenho, que escolho não reproduzir, de uma criança com os escritos: “Fora bandida; PT fora; morre ‘Diuma’; fora Lula; fora PT; morre Lula”.
Não sei descrever ao certo os sentimentos que me tomam quando vejo essas barbáries explicitadas em tom de politização e sabedoria. Se a barbárie é possível de ser vista exibida com orgulho desde as primeiras manifestações em março do ano passado com cartazes que lamentam não terem morridos todos em 1964, por exemplo, é impossível não se chocar ao ver uma criança sendo exaltada pela reprodução de um discurso de ódio.
Qualquer escola minimamente comprometida com uma educação para uma cidadania crítica e com reflexão social não deixaria passar em silêncio uma “expressão artística” dessas sem um debate sobre política, sobre ódio e sobre direitos humanos.
O nosso discurso adulto torna-se cada vez mais caótico. Perdido. Dizemos às crianças que não pode brigar com o amiguinho, que não pode xingar, que não pode bater (quero acreditar que essa ainda é a máxima utilizada), mas achamos um absurdo uma lei que nos impeça de dar “um tapinha”. Confundimos educação com coerção. Respeito com medo e, por fim, política com paixão. Confusões perigosas essas.
Eliane Brum, colunista que sigo com grande admiração, escreveu nesta semana que a política no Brasil deu lugar à fé em detrimento da razão, tanto para os odiadores de Dilma, Lula e PT, quanto para os adoradores de Lula. Acontece que, na política, mesmo para os crentes, é preciso ser ateu, escreveu ela.
Chegamos ao ponto em que o óbvio tem que ser dito. Não importa se você discorda da linha política de Dilma, Lula, Aécio ou Alckmin. Nada, absolutamente nada, justifica desejar a morte de tais figuras. Além de isso demonstrar o quão raso está o debate político, alerta também para o ódio exaltado com orgulho que, nessa linha, segue para um fascismo que vem tomando espaço disfarçado de combate à corrupção. Qual o nome para o desejo de morte do outro pela sua opção política ou religiosa? Sobre o que foi o holocausto?
Incitar o ódio de crianças deveria ser crime hediondo. Coisa que desejamos quando vemos crianças sendo usadas pelos radicais islâmicos, não?
Como acreditar que o desejo real de quem exalta discurso de ódio quer mesmo “um país digno para nossas crianças”? Digno para quem? Que dignidade pode haver quando o debate político dá lugar ao ódio e à barbárie escrita e proferida em tom de orgulho, dirigida ao outro que pensa diferente?
Em um país que ainda não aceita Direitos Humanos e que apesar de uma maioria cristã, defende o olho por olho, parece excesso de utopia acreditar que a educação sozinha será redentora desse cenário apocalíptico em que nos afundamos.
Buscava acreditar que apesar das ideologias diferentes, no fim todos queríamos todos a mesma coisa: um país melhor; um futuro melhor. Não consigo acreditar nisso quando o ódio toma o lugar do debate racional e coopta as crianças em discursos que não lhe deveriam ser próprios.  

Apesar disso, aceitar que o caminho para uma democracia forte e saudável ainda está a perder de vista entre nós, deve reforçar essa nossa utopia que não é mobilizante, mas serve exatamente para nos fazer caminhar.

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