“Meu filho meu maior orgulho... Gui se manifestando em sua aula de
artes... Vamos para as ruas domingo, vamos lutar por um país digno para nossas
crianças” texto seguido de #forapt #foradilma #vempraruabrasil. Abaixo o
desenho, que escolho não reproduzir, de uma criança com os escritos: “Fora bandida; PT fora; morre ‘Diuma’; fora
Lula; fora PT; morre Lula”.
Não sei descrever ao certo
os sentimentos que me tomam quando vejo essas barbáries explicitadas em tom de
politização e sabedoria. Se a barbárie é possível de ser vista exibida com
orgulho desde as primeiras manifestações em março do ano passado com cartazes
que lamentam não terem morridos todos em 1964, por exemplo, é impossível não se
chocar ao ver uma criança sendo exaltada pela reprodução de um discurso de
ódio.
Qualquer escola minimamente
comprometida com uma educação para uma cidadania crítica e com reflexão social
não deixaria passar em silêncio uma “expressão artística” dessas sem um debate
sobre política, sobre ódio e sobre direitos humanos.
O nosso discurso adulto
torna-se cada vez mais caótico. Perdido. Dizemos às crianças que não pode
brigar com o amiguinho, que não pode xingar, que não pode bater (quero
acreditar que essa ainda é a máxima utilizada), mas achamos um absurdo uma lei
que nos impeça de dar “um tapinha”. Confundimos educação com coerção. Respeito
com medo e, por fim, política com paixão. Confusões perigosas essas.
Eliane Brum, colunista que sigo com grande
admiração, escreveu nesta semana que a política no Brasil deu lugar à fé em
detrimento da razão, tanto para os odiadores de Dilma, Lula e PT, quanto para
os adoradores de Lula. Acontece que, na política, mesmo para os crentes, é
preciso ser ateu, escreveu ela.
Chegamos ao ponto em que o
óbvio tem que ser dito. Não importa se você discorda da linha política de Dilma,
Lula, Aécio ou Alckmin. Nada, absolutamente nada, justifica desejar a morte de
tais figuras. Além de isso demonstrar o quão raso está o debate político,
alerta também para o ódio exaltado com orgulho que, nessa linha, segue para um
fascismo que vem tomando espaço disfarçado de combate à corrupção. Qual o nome
para o desejo de morte do outro pela sua opção política ou religiosa? Sobre o
que foi o holocausto?
Incitar o ódio de crianças
deveria ser crime hediondo. Coisa que desejamos quando vemos crianças sendo
usadas pelos radicais islâmicos, não?
Como acreditar que o desejo
real de quem exalta discurso de ódio quer mesmo “um país digno para nossas crianças”? Digno para quem? Que dignidade
pode haver quando o debate político dá lugar ao ódio e à barbárie escrita e
proferida em tom de orgulho, dirigida ao outro que pensa diferente?
Em um país que ainda não
aceita Direitos Humanos e que apesar de uma maioria cristã, defende o olho por
olho, parece excesso de utopia acreditar que a educação sozinha será redentora
desse cenário apocalíptico em que nos afundamos.
Buscava acreditar que apesar
das ideologias diferentes, no fim todos queríamos todos a mesma coisa: um país
melhor; um futuro melhor. Não consigo acreditar nisso quando o ódio toma o
lugar do debate racional e coopta as crianças em discursos que não lhe deveriam
ser próprios.
Apesar disso, aceitar que o caminho
para uma democracia forte e saudável ainda está a perder de vista entre nós,
deve reforçar essa nossa utopia que não é mobilizante, mas serve exatamente
para nos fazer caminhar.
Publicado também em: http://jnovocontexto.com.br/educacao-para-barbarie/
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