Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Fracasso escolar

Após um ano de estudos e tarefas escolares muitos estudantes já estão em férias. Mas em um sistema que prioriza provas e notas, e não respeita as individualidades, a alegria não vem para todos.
Para quem ficou em recuperação ou já reprovou o ano escolar, o momento é de tristeza e frustração, não apenas para os estudantes, mas também para as famílias que, de forma geral, sempre depositam expectativas de sucesso nas crianças e adolescentes.
A notícia de uma reprovação, qualquer que seja ela, é muitas vezes carregada de tristeza e sentimento de incompetência. Isso acontece porque temos um sistema que culpa o indivíduo, ignorando variáveis que são determinantes para alcançar o que se determinou como sucesso.
O sistema educacional que se tem atualmente legitima a ideia de meritocracia, porém, deslocada do seu verdadeiro significado, pois ignora que nem todos partem do mesmo lugar e com os mesmos bens materiais e culturais, o que, portanto, invalida a concepção meritocrática.
Apesar disso, somos levados a crer que basta o esforço individual para alcançar o sucesso capitalista, desconsiderando que as desigualdades – econômicas, culturais, sociais, raciais, de gênero, entre outras – impactam determinantemente o percurso trilhado por cada um.
Como esperar de um estudante com uma família pobre, sem acesso a bens materiais e culturais o mesmo resultado de um estudante abastado com acesso aos mais diversos benefícios e privilégios que o ajudarão a subir a escada rumo ao sucesso?
Como esperar de um estudante com habilidade para artes o mesmo sucesso escolar de um estudante com habilidades para disciplinas em exatas, num currículo elaborado para priorizar estas últimas?
A reprovação nem sempre é sinônimo de falta de esforço individual, pode ser, dentre tantas coisas, uma falta de habilidade em ser subserviente a um sistema que tem servido mais para normatizar e homogeneizar, que para ensinar a pensar.
É um sistema fadado ao fracasso escolar e temos fracassado como sistema escolar.
Fracassamos quando não conseguimos despertar nos estudantes o desejo e satisfação pela aprendizagem. Fracassamos quando valorizamos mais a nota, que o conhecimento de fato. Fracassamos quando excluímos mais que acolhemos. Quando valorizamos uma disciplina em detrimento de outra. Fracassamos quando formamos indivíduos individualistas, obedientes e não questionadores. Fracassamos quando ignoramos as diversidades e potencialidades dos estudantes e quando dizemos a eles que a escola é importante para o futuro, ignorando a vida que pulsa no presente.
Ao não respeitar as individualidades, desejos e habilidades dos estudantes, esperar que todos alcancem o aclamado sucesso é apenas mais uma alienação construída por um sistema que a escola se incube de refletir e legitimar. Um sistema que se isenta de suas mazelas e da sua ideologia meritocrática distorcida e perversa que dissemina a crença que qualquer um pode ser bem sucedido. Qualquer um, não todos.

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