Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

#SomosTodosFanfarrões

Chegamos a dezembro e o cenário que se apresenta parece apontar poucos motivos para comemorar. Crise política, crise mundial, crise econômica, refugiados, racismo, homofobia, intolerância religiosa… Bom seria se um ponto final fechasse essa frase, mas não. O abismo parece não ter fim.
Uma empresa privada derrama lama sobre uma comunidade inteira, mata pessoas, animais, a fauna e a flora, um rio, chega ao mar, mais matança e nada acontece. Um grupo resolve protestar contra o maior crime ambiental da história do Brasil jogando um pouco de lama no Congresso e é preso por dano ambiental.
Cinco jovens que voltavam de um parque no Rio de Janeiro são metralhados com mais de 60 tiros pela polícia militar e quem se preocupa em dar explicações são as famílias. “Meu filho terminou o curso técnico”. “Meu filho fazia inglês”. “Meu filho era estudante”. “Meu filho estava comemorando o primeiro salário no emprego.” Da polícia a tentativa de forjar um auto de resistência. Da sociedade, silêncio. Não tem passeata com todos vestindo branco pela orla da zona sul. Não há pedidos de paz. Resta apenas a desconfiança sobre a honra desses meninos, pretos e pobres, suspeitos desde o nascimento.
Maju Coutinho, Thaís Araújo e Cris Vianna, mulheres negras vítimas de racismo em pleno século XXI, mas há ainda quem insista em dizer que não existe racismo no Brasil e que por aqui, o problema é só social. E viva a crença na democracia racial!
Da utopia de que a educação pode ser o refúgio de todo esse cenário, a partir de um projeto de educação que leve nossas crianças e jovens a uma vivência social mais saudável, somos sacudidos pelas repressões diversas: não podemos falar de gênero, grupos evangélicos proíbem o cumprimento da lei que trata da história e cultura e africanas e afro-brasileira e, para completar, a cereja do bolo, a PM bate em estudante que luta para permanecer na escola, contra a re(des)organização que, por decreto, insiste o governador Geraldo Alckmin.
O governador enfim percebeu que a educação é a arma mais perigosa contra o sistema que quer manter e já declarou guerra aos estudantes e professores que ousarem enfrentar sua política de sucateamento.
Aliás, bom momento para quem sempre se posicionou contra as cotas, com o argumento de que a saída para as desigualdades está apenas na melhoria da educação básica, juntar-se à luta dos estudantes para evitar que quase uma centena de escolas seja fechada e que 311 mil estudantes tenham suas vidas impactadas. Bom momento para se posicionar contra a PM truculenta que a mando do governador pega estudante pelo colarinho, pisa, bate, paralisa com spray de pimenta e bombas de gás estudantes que lutam pela educação pública. – Se bandido bom é bandido morto, estudante bom é estudante preso?
Devemos estar muito doentes para assistir pacificamente a tudo isso e ainda encontrar forças para bater panela contra um único partido acreditando que assim salvaremos o Brasil de tudo o que há de ruim por aqui.
Se a saída é bater panelas, peguemos as nossas e façamos uma grande fanfarra, porque motivos para se indignar e batucar há por todos os lados e partidos: do federal ao municipal. E “vamos às atividades do dia: lavar os copos, contar os corpos e sorrir, a essa morna rebeldia.” (Criolo).

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