Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Linhas soltas...




Já tenho mais de mil fotos de Cabo Verde. E cada uma conta uma história. Desde o estranhamento com construções que são mais cinzas que no Brasil - não há tijolos de barro por aqui e vê-se pouquíssima telhas, geralmente nas construções mais antigas -, até as paisagens que me encantam, passando por momento de alegria com pessoas que eu há 2 meses nem sequer eu sabia que existiam e que agora já fazem parte da minha vida e deixarão saudades no fim disso tudo.



E lá fomos nós, esse trio brasileiro, a Tarrafal, cidade praiana no norte da ilha. Cerveja, porção de peixe (em que se pede por pedaço e cada pedaço é 30 escudos), mar, sol e soneca... Tudo que faz a vida valer a pena e não custa assim tão caro. Basta ter o mar por perto.






Não sei ao certo mais o que contar sobre Tarrafal. Parece-me que há coisas que só são possíveis de sentir. E foi um misto de emoções. Senti-me feliz pelo privilégio desse intercâmbio, de poder conhecer tanta coisa nova que aos poucos já vão se fazendo cotidiana. Senti-me saudosa das viagem que faço no Brasil no mesmo pique: praia e cervejinha. Senti um desejo enorme de poder dividir isso com tanta gente que amo e que sei que amaria isso aqui também: minha mãe, irmã, cunhado e sobrinhas. Minhas amigas queridas de Barão Geraldo: Marina e Angel, com quem conversaria horas sobre nossas percepções acadêmicas sobre a colonização, sobre o machismo e sobre como a cultura resiste entre trancos e barrancos, que aqui são muitos. Pensei na Jordana e na Clara, em como discordariam em alguma coisa entre si e terminariam falando alguma bobagem que nos faria gargalhar alto. Coração apertou de saudade. Senti vontade de me aconchegar num colo, ainda que imaginário na minha casinha aqui, que já se tornara também lar.

Domingo, segunda e terça, foram dias difíceis. Uma tristeza saudosa de quem sabia que apenas ir embora não curaria... E no meio disso tudo uma tese a fazer, porque nem tudo são passeios, mares, caipirinhas e cerveja...

Usar Boaventura de Sousa Santos como estruturante da tese seria de um disparato que eu não estava me dando conta. E que bom foi receber a Cláudia, pesquisadora do CLE (Centro de Lógica e Epistemologia da Unicamp) que me apontou caminhos possíveis... Porque não dá pra falar de epistemicídio e criticar o eurocentrismo usando como base um homem branco, europeu, português, né?!? Eu criticaria o que estaria a reproduzir... Como não tenho problema em ser essa metamorfose ambulante sou agora seguidora do grupo "Modernidade/Colonialidade" criado pelo Arturo Escobar...

"“a colonialidade é constitutiva da modernidade, e não derivada” (Walter Mignolo). A, modernidade e colonialidade são as duas faces da mesma moeda. Graças à colonialidade, a Europa pode produzir as ciências humanas como modelo único, universal e objetivo na produção de conhecimentos, além de deserdar todas as epistemologias da periferia do ocidente."

O ânimo voltara e lembrei-me de agradecer por tudo. Do atum fresco comprado no mercado plateau, aos cachorros que não me deixam sozinha pelo campus, passando lógico, pela alegria de poder ir à praia quando quiser... 







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