Dessa vez Frida decidiu que ficaria em casa, sóbria, lembraria de tudo que se passara e se obrigaria a ter pensamentos otimistas sobre o ano que está para chegar.
Lembrou da última virada, uma viagem com as amigas. Era o mais fiel que conseguia lembrar com sua própria memória, do resto, a amnésia alcoólica não lhe permitia maiores lembranças, apenas lembranças alheias lhe traziam maiores informações, coisas que preferia esquecer, ou nem saber. Mas gostava de se lembrar dos gringos – “little Kiss for luckyyyyy!” – da champagne, das fotos e até mesmo da chuva que lhe lavara a alma e levara embora seu chinelo cor de rosa, novinho!
A ceia de 1º de ano oferecia as melhores guloseimas de uma viagem de jovens sem muito dinheiro. Cerveja sem gelo, coca-cola idem, rafitos, alguns biscoitos, balas e chicletes. Tudo isso regado à falta de água potável e energia elétrica, risadas e a incerteza quanto a como e quando voltar pra casa.
Pra quem começou na lama, literalmente, era otimismo demais esperar por um ano com muito sucesso. Frida tentou, insistiu, comemorou por vitórias que nunca vieram e se viu vítima de teorias conspiratórias inexistentes, mas que eram a única explicação pra tanta coisa errada num ano que prometia...
Também, não prometia tanto assim. Frida dedicou-se aos estudos e sentia-se incompleta. Dedicou-se a um amor; leve engano. Dedicou-se a um esporte. Mas o vazio continuava lá e Frida decidiu que seria mãe. Sem o apoio de seus amigos, tomou essa decisão. Encontrava-se no auge de sua idade fértil e não poderia desperdiçar essa chance, como tantas outras que já desperdiçara...
Essa certeza não durou muito tempo. De novo na noite, Frida logo desistiu, por enquanto ao menos. E assim Frida estava novamente no rastapé. Mais madura, dona de uma segurança invejável e um sorriso enigmático que lhe trouxera algumas conquistas noturnas, mas que apenas lhe somavam números e a retomada de uma auto-estima vazia. Frida queria mais. Sempre.
Decidiu que seria mais séria, arrumaria um emprego, se dedicaria mais à família e seria uma mulher digna de sua idade. Nada mais de cervejinha em botecos copo sujo, apenas vodka em um único bar, onde já conquistara a simpatia dos garçons. Mais chique.
Frida estava traçando um caminho, mas incerta de estar na direção certa. Ao menos tentou. Tenta. Tentará. E para começar será assim, passará o réveillon sóbria, e apesar dos pesares, ao menos terá certeza de onde e com quem dormiu no primeiro dia do ano.