Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

REVEILLON DE FRIDA

Dessa vez Frida decidiu que ficaria em casa, sóbria, lembraria de tudo que se passara e se obrigaria a ter pensamentos otimistas sobre o ano que está para chegar.

Lembrou da última virada, uma viagem com as amigas. Era o mais fiel que conseguia lembrar com sua própria memória, do resto, a amnésia alcoólica não lhe permitia maiores lembranças, apenas lembranças alheias lhe traziam maiores informações, coisas que preferia esquecer, ou nem saber. Mas gostava de se lembrar dos gringos – “little Kiss for luckyyyyy!” – da champagne, das fotos e até mesmo da chuva que lhe lavara a alma e levara embora seu chinelo cor de rosa, novinho!

A ceia de 1º de ano oferecia as melhores guloseimas de uma viagem de jovens sem muito dinheiro. Cerveja sem gelo, coca-cola idem, rafitos, alguns biscoitos, balas e chicletes. Tudo isso regado à falta de água potável e energia elétrica, risadas e a incerteza quanto a como e quando voltar pra casa. 

Pra quem começou na lama, literalmente, era otimismo demais esperar por um ano com muito sucesso. Frida tentou, insistiu, comemorou por vitórias que nunca vieram e se viu vítima de teorias conspiratórias inexistentes, mas que eram a única explicação pra tanta coisa errada num ano que prometia...

Também, não prometia tanto assim. Frida dedicou-se aos estudos e sentia-se incompleta. Dedicou-se a um amor; leve engano. Dedicou-se a um esporte. Mas o vazio continuava lá e Frida decidiu que seria mãe. Sem o apoio de seus amigos, tomou essa decisão. Encontrava-se no auge de sua idade fértil e não poderia desperdiçar essa chance, como tantas outras que já desperdiçara...

Essa certeza não durou muito tempo. De novo na noite, Frida logo desistiu, por enquanto ao menos. E assim Frida estava novamente no rastapé. Mais madura, dona de uma segurança invejável e um sorriso enigmático que lhe trouxera algumas conquistas noturnas, mas que apenas lhe somavam números e a retomada de uma auto-estima vazia. Frida queria mais. Sempre.

Decidiu que seria mais séria, arrumaria um emprego, se dedicaria mais à família e seria uma mulher digna de sua idade. Nada mais de cervejinha em botecos copo sujo, apenas vodka em um único bar, onde já conquistara a simpatia dos garçons. Mais chique. 

Frida estava traçando um caminho, mas incerta de estar na direção certa. Ao menos tentou. Tenta. Tentará. E para começar será assim, passará o réveillon sóbria, e apesar dos pesares, ao menos terá certeza de onde e com quem dormiu no primeiro dia do ano. 

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