Quem já fez endoscopia e tem um organismo minimamente sensível, sabe sobre o que estou falando. Quinta feira, endoscopia agendada para 11h20. A recepcionista me disse que eu deveria estar em jejum de 6 horas para o temido exame e então, se quisesse, poderia tomar um café às 5h da manhã e depois não poderia ingerir mais nada. Jejum absoluto. Fiquei dividida entre minhas sagradas horas de sono – que geralmente passam das 8h necessárias para a maioria da humanidade – ou a necessidade de quebrar um jejum que se estenderia por umas 16 horas. Optei pelas minhas horas de sono.
Fraca, acordei mais tarde que o normal e permiti-me não realizar grandes esforços e dedicar o dia para fazer “coisas femininas”. Depilação em casa mesmo, com aquela maquininha que tira o pelo pela raiz. Sabe se lá se seria preciso tirar a roupa para o exame, não queria me apresentar como a mulher ursa, apesar de reconhecer suas qualidades...
A hora foi passando e o meu humor que já não anda dos melhores, foi piorando um pouco como consequência desse jejum que já chegava às 14 horas... Bom, 11 horas eu estava pronta. Banho tomado, pele de pêssego e uma fome de leão, esperando pela minha mãe que seria minha acompanhante, mais uma exigência do exame.
Na clínica, fui coagida a assinar um termo de responsabilidade pelo exame, apesar de na literatura médica não haverem muitos relatos de problemas relacionados ao exame, fazia-se necessário que eu estivesse ciente do risco. Qual? Também não ficou claro para mim.
Estava tudo atrasado, lógico. E a mistura de fome com ansiedade por não fazer a mínima de ideia de como era possível que inserissem uma câmera até meu estômago sem que eu percebesse foi me deixando uma pilha. No auge da adrenalina, fui chamada. Entro numa sala em que parecia ser possível fazer um transplante de estômago, não apenas uma espiadinha nele, como era o caso.
Mandaram-me deitar e ficar de lado. Estranhei. Sou muito curiosa. Perguntei na mesma hora: “Por que de lado?” Achei a mulher meio fria. Disse-me: Você não vai fazer o exame? Minha vontade era dizer: “Eu perguntei primeiro!” para quebrar aquela tensão, mas para garantir logo que não fariam exame errado, porque sei que câmeras podem entrar por outros orifícios que não a boca, garanti logo: “mas o exame é pela boca, né?” Fiquei mais tranquila em deixar as coisas esclarecidas.
Logo veio a enfermeira com uma injeção para ser aplicada na veia. Ela percebeu minha tensão e passou a ser mais compreensiva. “Esse remédio vai te dar um sono, pode dormir, quando o exame acabar eu acordo você.” Lembro-me de dizer: “estou sentindo meu corpo todo formigar”. Depois disso acordei em outra sala, esparramada numa poltrona, querendo falar sobre a minha indignação porque não conheci a médica. Não sei quem foi a pessoa que introduziu um tubo pela minha boca (assim espero!) que deve ter chegado até o meu estômago.
A memória desse momento foi bastante afetada pelo tal remedinho que me daria sono. Remedinho porreta esse! Fiquei numa embriaguez inexplicável. Tinha a sensação de estar torta e segundo me contaram, pedi e insisti muito para que tirassem uma foto para que eu pudesse ter certeza que estava mesmo tudo no lugar. Também sentia o peso da gravidade de uma maneira muito mais intensa.
Aos poucos fui recuperando a força e meio apoiada consegui ir andando até o carro, que estava estacionado num lugar estratégico, para as vendedoras, parado em frente a uma loja de lingerie, logo eu que sou meio de esquerda, virei à direita, para a loja, claro! Depois de uma boa depilação nada melhor do que escolher lingeries novas. Nesse momento eu já quase conseguia andar sem ajuda. As vendedoras aproveitaram-se um pouco da minha embriaguez e acabei comprando 2 sutiãs + 2 calcinhas para “conjuntar” + 1 top amarelo para ginástica. Pechincha, total. Tudo por um precinho que só dava pra acreditar estando mesmo meio embriagada!