Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Esperança

Desejo que em 2016 haja renovação de ideias, conceitos, e rumos.
Que a educação seja libertadora.
Desejo que a escola seja um lugar de alegria para todas as crianças e que não haja bullying.
Que as crianças negras se vejam representadas nos cartazes e nas bonecas das escolas.
Desejo que racismo, sexismo, homofobia e todos os preconceitos sejam apenas más lembranças do velho e gasto 2015.
Que não haja cerceamento de ideias. Que, dentre tantas outras, haja discussão sobre gênero.
Desejo que haja alegria no ato de ensinar. E no de aprender.
Desejo que os professores sejam enfim valorizados – social, profissional e financeiramente.
Desejo que a educação se torne prioridade na agenda do poder público – federal, estadual e municipal.
Tenho desejos grandes. Utopias, talvez…
E para que serve a utopia se, estando no horizonte, ao caminhar dez passos, ela se afasta dez passos?
Serve exatamente para isso, para caminhar. (Fernando Birri)
Caminhemos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Fracasso escolar

Após um ano de estudos e tarefas escolares muitos estudantes já estão em férias. Mas em um sistema que prioriza provas e notas, e não respeita as individualidades, a alegria não vem para todos.
Para quem ficou em recuperação ou já reprovou o ano escolar, o momento é de tristeza e frustração, não apenas para os estudantes, mas também para as famílias que, de forma geral, sempre depositam expectativas de sucesso nas crianças e adolescentes.
A notícia de uma reprovação, qualquer que seja ela, é muitas vezes carregada de tristeza e sentimento de incompetência. Isso acontece porque temos um sistema que culpa o indivíduo, ignorando variáveis que são determinantes para alcançar o que se determinou como sucesso.
O sistema educacional que se tem atualmente legitima a ideia de meritocracia, porém, deslocada do seu verdadeiro significado, pois ignora que nem todos partem do mesmo lugar e com os mesmos bens materiais e culturais, o que, portanto, invalida a concepção meritocrática.
Apesar disso, somos levados a crer que basta o esforço individual para alcançar o sucesso capitalista, desconsiderando que as desigualdades – econômicas, culturais, sociais, raciais, de gênero, entre outras – impactam determinantemente o percurso trilhado por cada um.
Como esperar de um estudante com uma família pobre, sem acesso a bens materiais e culturais o mesmo resultado de um estudante abastado com acesso aos mais diversos benefícios e privilégios que o ajudarão a subir a escada rumo ao sucesso?
Como esperar de um estudante com habilidade para artes o mesmo sucesso escolar de um estudante com habilidades para disciplinas em exatas, num currículo elaborado para priorizar estas últimas?
A reprovação nem sempre é sinônimo de falta de esforço individual, pode ser, dentre tantas coisas, uma falta de habilidade em ser subserviente a um sistema que tem servido mais para normatizar e homogeneizar, que para ensinar a pensar.
É um sistema fadado ao fracasso escolar e temos fracassado como sistema escolar.
Fracassamos quando não conseguimos despertar nos estudantes o desejo e satisfação pela aprendizagem. Fracassamos quando valorizamos mais a nota, que o conhecimento de fato. Fracassamos quando excluímos mais que acolhemos. Quando valorizamos uma disciplina em detrimento de outra. Fracassamos quando formamos indivíduos individualistas, obedientes e não questionadores. Fracassamos quando ignoramos as diversidades e potencialidades dos estudantes e quando dizemos a eles que a escola é importante para o futuro, ignorando a vida que pulsa no presente.
Ao não respeitar as individualidades, desejos e habilidades dos estudantes, esperar que todos alcancem o aclamado sucesso é apenas mais uma alienação construída por um sistema que a escola se incube de refletir e legitimar. Um sistema que se isenta de suas mazelas e da sua ideologia meritocrática distorcida e perversa que dissemina a crença que qualquer um pode ser bem sucedido. Qualquer um, não todos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Vitória!

Vitória era uma menina feliz. Morava numa casa simples, num vilarejo de chão batido em que as árvores podiam nascer e crescer livremente, sem o concreto lhe apertando as raízes.
Vitória sonhava. Dormindo e acordada. Nos seus devaneios, era heroína e fada madrinha. Caçava borboletas, enfrentava dragões e andava por cometas.
Quando Vitória completou 6 anos, sabia que iria à escola. Seus pais diziam que lá ela seria muito feliz. Que teria amigas e amigos. Que aprenderia muitas coisas e seria sabida.
Vitória passou acordada a noite que antecedia seu primeiro dia na escola, tamanha a ansiedade. E sonhava.
Colocou orgulhosa o seu uniforme, mesmo sem entender ao certo porque teria que usar uma roupa igual a todo mundo. Penteou o cabelo com cuidado e apressada bebeu seu copo de leite fresco com pão caseiro que a mãe fez especialmente para este dia.
Chegou à escola e, apesar do desconhecimento de tudo, estava empolgada. Seus pais diziam: “Filha, você será doutora! Aproveite a chance que nós nunca tivemos!”.
Vitória chegou e logo se assustou com uma sirene alta e ardida que tocou. Sem entender o porquê daquele som, acabou sozinha e perdida num grande espaço concretado até que alguém com voz alta e de tom firme gritou com ela, mandando-o para a fila. Vitória se assustou, mas entendeu logo que era o que todos faziam e, portanto, devia fazer o mesmo e obedeceu.
Assim foram todos os dias. Sirene. Fila. Sala de aula. Nucas. Vitória não entendia como poderia aprender olhando para a nuca dos colegas. Pensava que seria melhor se sentassem em roda, como se fazia nas festas da vila, podendo olhar para os colegas e conversar com todos sobre as novas descobertas.
Vitória sentiu vontade de fazer xixi. Levantou-se e foi ao banheiro. Levou uma bronca. Aprendeu que deveria pedir para ir ao banheiro, ou tomar água. Mas que certo mesmo era que essas coisas fossem feitas durante o intervalo. Não entendeu direito isso de ter hora certa para xixi, mas obedeceu.
Da professora Vitória gostava, ela parecia tão sabida! E com ela aprendeu que “vovô viu a uva”; mas nunca tinha visto ou sentido o sabor da uva. Naquelas terras secas, uva não dava.
Vitória aprendeu português e que o jeito simples como falavam seus pais e avós era errado e feio. Não podia mais. Obedeceu. Ouviu sobre ciências, matemática, geografia, história… Histórias…
Vitória aprendeu também que importante mesmo era o diretor que todo mundo tinha que obedecer, sem questionar. E obedeceu.
Vitória logo aprendeu que não bastava saber, era preciso provar numa folha com perguntas que nem sempre faziam sentido. E aprendeu que conhecimento não se compartilha. E que não bastava saber, precisava saber mais que os outros para ser escolhida a “aluna número 1” e ganhar medalha no final do ano.
Vitória foi passando e recebendo todos os conhecimentos que diziam serem importantes. Teve vários professores. De alguns gostava, sentia admiração. De outros, medo. De alguns chegou a sentir raiva.
Aprendeu que não podia boné. Aprendeu que futebol era só para meninos. Aprendeu que não podia correr. Que não podia gritar. Que não podia brincar. Que não podia sonhar. Que não devia questionar. Não! Não! Não!
Acordou assustada. Olhou em volta, havia uma mariposa na sua janela. Era sinal de sorte. Respirou aliviada. Foi só um pesadelo, pensou. A escola de verdade, seria diferente. Vestiu o uniforme e ajeitou o cabelo com uma fita vermelha que se prendia com um belo laço. O leite fresco e o pão estavam lá. Comeu ansiosa. Caminhou feliz pelo chão de terra. Parecia saber que o pesadelo era sobre coisa que ficou no passado. Que os tempos eram outros e que agora estudantes questionavam, lutavam, e diziam sobre a escola que queriam ter. Que meninas eram verdadeiras lutadoras.
Seria diferente. Seria melhor. Seria bom.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

#SomosTodosFanfarrões

Chegamos a dezembro e o cenário que se apresenta parece apontar poucos motivos para comemorar. Crise política, crise mundial, crise econômica, refugiados, racismo, homofobia, intolerância religiosa… Bom seria se um ponto final fechasse essa frase, mas não. O abismo parece não ter fim.
Uma empresa privada derrama lama sobre uma comunidade inteira, mata pessoas, animais, a fauna e a flora, um rio, chega ao mar, mais matança e nada acontece. Um grupo resolve protestar contra o maior crime ambiental da história do Brasil jogando um pouco de lama no Congresso e é preso por dano ambiental.
Cinco jovens que voltavam de um parque no Rio de Janeiro são metralhados com mais de 60 tiros pela polícia militar e quem se preocupa em dar explicações são as famílias. “Meu filho terminou o curso técnico”. “Meu filho fazia inglês”. “Meu filho era estudante”. “Meu filho estava comemorando o primeiro salário no emprego.” Da polícia a tentativa de forjar um auto de resistência. Da sociedade, silêncio. Não tem passeata com todos vestindo branco pela orla da zona sul. Não há pedidos de paz. Resta apenas a desconfiança sobre a honra desses meninos, pretos e pobres, suspeitos desde o nascimento.
Maju Coutinho, Thaís Araújo e Cris Vianna, mulheres negras vítimas de racismo em pleno século XXI, mas há ainda quem insista em dizer que não existe racismo no Brasil e que por aqui, o problema é só social. E viva a crença na democracia racial!
Da utopia de que a educação pode ser o refúgio de todo esse cenário, a partir de um projeto de educação que leve nossas crianças e jovens a uma vivência social mais saudável, somos sacudidos pelas repressões diversas: não podemos falar de gênero, grupos evangélicos proíbem o cumprimento da lei que trata da história e cultura e africanas e afro-brasileira e, para completar, a cereja do bolo, a PM bate em estudante que luta para permanecer na escola, contra a re(des)organização que, por decreto, insiste o governador Geraldo Alckmin.
O governador enfim percebeu que a educação é a arma mais perigosa contra o sistema que quer manter e já declarou guerra aos estudantes e professores que ousarem enfrentar sua política de sucateamento.
Aliás, bom momento para quem sempre se posicionou contra as cotas, com o argumento de que a saída para as desigualdades está apenas na melhoria da educação básica, juntar-se à luta dos estudantes para evitar que quase uma centena de escolas seja fechada e que 311 mil estudantes tenham suas vidas impactadas. Bom momento para se posicionar contra a PM truculenta que a mando do governador pega estudante pelo colarinho, pisa, bate, paralisa com spray de pimenta e bombas de gás estudantes que lutam pela educação pública. – Se bandido bom é bandido morto, estudante bom é estudante preso?
Devemos estar muito doentes para assistir pacificamente a tudo isso e ainda encontrar forças para bater panela contra um único partido acreditando que assim salvaremos o Brasil de tudo o que há de ruim por aqui.
Se a saída é bater panelas, peguemos as nossas e façamos uma grande fanfarra, porque motivos para se indignar e batucar há por todos os lados e partidos: do federal ao municipal. E “vamos às atividades do dia: lavar os copos, contar os corpos e sorrir, a essa morna rebeldia.” (Criolo).

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Escolas de luta

Começou pequeno, com uma, duas, três escolas ocupadas… Agora, já são quase 200 escolas estaduais ocupadas por estudantes que lutam para garantir o direito – constitucional – à educação.
Lutam porque o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), impôs um projeto de reorganização das escolas estaduais que, dentre outras coisas, pretende fechar 94 escolas no próximo ano, para começar.
Acho “engraçado” os termos utilizados em São Paulo: fechar escola é reorganização e racionamento de água é rodízio. Termos sutis, mas que na prática ferem a cidadania da parte da população que muitos parecem, ou preferem, não sei, ignorar a existência.
Além do fechamento, o projeto prevê a reestruturação das escolas em ciclos com o argumento de que escolas com apenas um segmento têm melhores desempenhos nas avaliações, mesmo sem nenhuma comprovação de tais dados.
Estudantes, professores, famílias, comunidades acadêmicas, a sociedade enfim, já se posicionou contrária à reorganização porque não há argumentos que convençam que o fechamento de quase uma centena de escolas possa ser uma ação em prol da educação. 
O argumento de que há salas ociosas, além de ser um argumento falso – alguém, por favor, aponte-me uma sala com menos de 25 alunos na rede estadual – vem de uma ideia de educação em formato fabril em que o estudante deve entrar na escola para estar em uma sala de aula, ouvir, de preferência sem questionar, e sair de lá assim que o sinal toca, passando os níveis seriados após provarem terem aprendido sobre todas as regras e conteúdos – que pouco servirão para uma vida em sociedade.
É a ideia de uma escola fria, que enxerga no aluno uma folha em branco que colocado numa esteira de fábrica receberá as peças que faltam em cada etapa do processo até sair de lá pronto para perpetuar o sistema. Ignora-se assim que a escola deveria ser o espaço da convivência e da sociabilidade antes de tudo.
Se o excelentíssimo governador estivesse, de fato, preocupado com a qualidade da educação, pensaria em ocupar as ditas salas ociosas com salas para estudos, salas temáticas, além do óbvio: diminuir o número de estudantes por sala, garantindo possibilidades reais para os professores realizarem um bom trabalho.
O que se esconde atrás desses argumentos não convincentes é a política de desmantelamento da educação pública para levar à população a crença de que a privatização é o caminho e, assim, desresponsabilizar o estado de garantir educação pública, gratuita e de qualidade – o que economizaria alguns bilhões.
Mas os estudantes – esses vândalos que ocupam escolas (?!?!) – cansaram de ouvir e obedecer. Assumiram o controle da educação e vêm dando uma lição de cidadania ao ocupar as escolas com uma organização de dar inveja a muito empreendedor e resistindo contra uma política instituída de ignorar que educação de qualidade é direito, não favor. Resistindo contra uma polícia que deveria proteger, mas que ataca com cassetete e spray de pimenta estudantes que lutam para ficar na escola.
Apesar disso, resistem. E o movimento segue. E cresce por todo o estado. As primeiras vitórias já aparecem na suspensão da reintegração de posse das escolas ocupadas e no recuo ao fechamento de duas escolas – nos municípios de Piracicaba e Santos.
Esses estudantes transformaram, até agora, quase duas centenas de escolas em ESCOLA DE LUTA! A melhor escola da e para a vida. Que nos sirva de lição e ative em nós a utopia juvenil necessária para aprender.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Consciência Negra e Educação.


Disponível em; http://jnovocontexto.com.br/consciencia-negra-educacao/

No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra, criado em 2003 e instituído em âmbito nacional mediante lei em 10 de novembro de 2011. A data refere-se ao aniversário de morte de Zumbi, assassinado após resistir à escravidão por muitos anos no Quilombo de Palmares.
A lei é recente e a falta de noção histórica – ou canalhice – de parte da população faz emergir todo ano a falácia de que não precisamos de um dia da consciência negra, mas de um dia da consciência humana, repetindo a ideia falaciosa de que somos todos iguais.
Há ainda os mais ousados que pedem por um dia da consciência branca. Consciência branca pra quê? Qual o sofrimento imposto para a população branca? Quantas vezes você foi barrado de entrar em algum lugar por ser branco? Quantas vezes a polícia te abordou como suspeito? Quantas vezes o táxi vazio não parou para você? Quantas vezes você teve seu cabelo desmerecido pela textura? Consciência Negra e Consciência Branca não são um binômio complementar.
É preciso Consciência Negra para deixar de ignorar os mais de 300 anos de escravização da população negra, sequestrada de suas terras, embarcada a força em barcos com condições sub-humanas e vendida como mercadoria aos senhores. Homens e mulheres escravizados e que construíram com suor e muito sangue um país para brancos usufruírem.
É preciso Consciência Negra porque a tortura, exploração e mortes negras durante mais de três séculos não foram suficientes para se pensar em Direitos Humanos, pensado apenas após o horror do Holocausto.
É preciso Consciência Negra para refletir sobre a Lei Áurea que tirou os negros da senzala, para colocá-los a mercê da sociedade, desempregados, proibidos de frequentar escolas e de exercer as principais atividades remuneradas que realizavam, não por descuido, mas por política instituída que buscou branquear a população com a implantação de cotas para europeus virem ocupar o trabalho – que passava a ser remunerado – dos trabalhadores negros.
É preciso Consciência Negra para se sensibilizar com os atos de racismo diários, que nada têm de mal entendidos.
É preciso Consciência Negra para acabar com o achismo de que o passado nada tem a ver com a história atual e entender as políticas de ação afirmativa que visam reparar as injustiças históricas sofrida pelo povo negro,
É preciso Consciência Negra para que as escolas tornem-se o espaço privilegiado para discutir as questões raciais, se não por iniciativa, por cumprimento à Lei 10.639, política de ação afirmativa instituída em 2003 que altera a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) e torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana tendo em vista valorizá-las, enfrentar o racismo e as discriminações para uma nova relação étnico-racial.
É preciso Consciência Negra para que essa Lei deixe de ser ignorada por grande parte das escolas: públicas e privadas.
A lei é fundamental para ensinar sobre a grandiosidade da África e seus 54 países, ricos em história e cultura. Para entender que não há escravos, mas seres humanos, escravizados em diversos contextos, mas que no capitalismo atingiu o ápice da crueldade humana em fazer do escravismo uma prática comercial cruel, impossível de se conceber até mesmo para animais. Para localizar o Egito como um país africano e apresentar Cléopatra como a rainha negra que foi, dentre tantas outras rainhas e princesas negras de países africanos.
A lei é fundamental para que a representatividade do negro no livro didático não esteja apenas no povo escravizado ou no Saci-Pererê, atores e personagens representados com valores de pouco orgulho para crianças negras. Para romper com a educação eurocêntrica que ignora a diversidade de cores e texturas, acabando de vez com a ditadura do cabelo liso e com o racismo perverso que coloca o cabelo crespo como feio, duro e ruim, adjetivos que deveriam servir apenas para acompanhar o substantivo démodé “racismo”. Para acabar com a ideia de que aquele lápis de cor rosinha desbotado é o “cor de pele” que não é a cor de pele de ninguém.
A lei é fundamental para que, por meio da educação, possamos construir uma sociedade em que um dia, de fato, não precisemos de um Dia da Consciência Negra. Porque, no cenário atual, acreditar que “Consciência Humana” basta, é tão ingênuo – para amenizar – quanto acreditar em coelhinho da páscoa e papai Noel.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Obrigada, mas...

São lindas as mensagens parabenizando os professores e professoras nesta data. Mas as mensagens pouco nos servem se você ao se deparar com uma greve da classe, que luta por melhores condições de trabalho, melhores salários e, principalmente, melhor educação para todas as crianças e jovens desse país, esbraveja nos chamando de vagabundos e baderneiras.

De nada adianta lindas mensagens se você ignora que meu salário é dos menores entre os profissionais com nível superior, e legitima falas que acreditam que devo trabalhar apenas por amor e dom.
De nada adianta se ao visitar uma escola o que te interessa são estruturas megalomaníacas, tecnologias avançadas, marcas famosas e ignora que, apesar da mensalidade acima do que ganha muita família brasileira, meu salário fica no piso que é pouco mais que dois salários mínimos.

A verdadeira homenagem vem de quem acredita, somando-se a nós, que a mudança é necessária, e possível. Que engrossa nosso coro contra políticas de desmantelamento da educação pública. Que luta ao nosso lado e que, acima de tudo, reconhece que a educação é um ato político de quem acredita que “a educação é uma forma de intervenção no mundo” (Paulo Freire). 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

2 contra o mundo: O fim da gestão Haddad

2 contra o mundo: O fim da gestão Haddad: Foi divulgada ontem a primeira pesquisa para as eleições municipais de SP de 2016. O resultado foi catastrófico para o atual prefeito...

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

16.08.2015




Triste. 


Triste por ver uma população despolitizada, ingênua, totalmente heterônoma, dependente e reprodutora de uma mídia burguesa. 


Uma população que precisa crer, e crê, sem dúvidas alguma que a corrupção no Brasil foi inventada e executada por um único partido. Partido que diminuiu a miséria. Colocou pobre e preto na universidade. Deu direitos trabalhistas a empregadas domésticas, e colocou gente simples voando de avião, ao lado do patrão. Coisa feia essa de tirar essa gentinha de onde nunca devia ter saído... :/


Governo que ampliou as universidades públicas federais, que levou cisternas à população do nordeste... mas que também cometeu muitos erros. E comete. Que não a toa tem uma reprovação de 90% em média nos dias atuais... mas, reprovação essa que não é sinônimo de desejo de impeachment. 


Triste por ver uma população que crê fielmente na meritocracia, que ao ascender remete tudo ao esforço pessoal, mas que ao menor sinal de crise esbraveja contra o governo... Coerência pra quê, né? 


Uma população que clama por educação, mas que não consegue argumentar para além de adjetivação "petralha"; "corruptos" ao qualquer sinal de divergência com o seu pensamento alimentado por um ódio que impede qualquer possibilidade de diálogo. 


Uma população que, não sei se por falta de memória, caráter ou educação escolar de qualidade, idolatra uma ditadura que torturou, matou e foi altamente corrupta


Uma população que clama pela moral, bons costumes e pela família tradicional, mas não se envergonha ostentar faixas lamentando o não assassinato de quem lutou contra uma ditadura. Que não se envergonha do machismo violento utilizado para mostrar o descontentamento com a presidenta eleita democraticamente. Machismo que nada diz sobre atuação política, mas muito sobre a estrutura machista que impera sobre nós. 


Uma população que se orgulha de fazer caridade, mas esbraveja contra programas sociais que emancipou famílias, salvou vidas de crianças e é reconhecido mundialmente pelos benefícios do mesmo na sociedade. 


Triste porque é essa alienação que faz com que a velha política reapareça mais forte do que nunca, gargalhando da ingenuidade de um povo que prefere o silêncio da corrupção não investigada ao barulho da verdade de uma estrutura corrupta e suja que persiste no Brasil desde que os portugueses chegaram e nos roubaram o ouro, a madeira e a vida dos legítimos conterrâneos dessas terras tropicais. 

Feliz eu estaria se pudesse acreditar que a corrupção no Brasil acabará se o tão sonhado impeachment acontecer. Deve mesmo ser um lugar muito confortável esse de achar que um partido é maior que uma estrutura que, independente de partidos, rouba, mata e manipula para permanecer no poder e deixar tudo como está

domingo, 15 de março de 2015

15.03.2015

Que bom que o povo saiu às ruas para se manifestar, mostrar insatisfação. Isso faz parte da democracia. Democracia essa conquistada com muita luta, sangue e vida (literalmente) de muitos que nem mais estão aqui para assistir ao espetáculo.

Também tenho insatisfações aos rumos do Governo Dilma, mas tenho também críticas ao rumo que a política do Estado de SP segue há décadas e da minha cidade que tem casos próprios de corrupção, mas que são ignorados e muitas vezes colocados na conta do poder executivo federal.

O que me deixa realmente triste é ver gente que confunde política com jogo de futebol, aliás nem nisto acho que vale os xingamentos vistos ultimamente. Não entendo qual a crítica política em chamar a presidenta, ou qualquer pessoa, de vaca, vagabunda ou usar uma camiseta estampada com um "vai tomar no c*"...  Sério que é a partir disso que vocês pedem por mudança?!?

Não vejo democracia quando se ignora a corrupção existente neste país desde que foi invadido e saqueado por europeus há 500 anos e coloca-se a responsabilidade pela mesma em um único partido, personificado em poucas pessoas que a mídia elegeu. Que histeria coletiva é essa que prefere ignorar a corrupção de políticos que surgem como heróis nacionais?!?

Ninguém é a favor da corrupção! Não acredito na idoneidade total do PT, mas é bem verdade que nunca se investigou e puniu tanto... Mas como era boa a sensação de que tudo ia bem...

Desejo, como muitas pessoas, que todos os envolvidos sejam punidos e eliminados da política. Não acredito que enjaular essas pessoas seja um bom caminho, mas que devolvam à nação tudo que dela roubaram.

Desejo um país melhor, mas acredito que a melhoria passa também e, principalmente, por justiça social e não apenas no meu poder de compra aumentado.

Por fim, desejo que a democracia se qualifique. Que a crítica permaneça. Séria. Responsável. Com embasamento histórico e político de quem sabe que a ditadura militar não é saída para nada e que impeachment não acontece por desejo ou descontentamento. Que o mesmo senso de justiça esteja presente individualmente em todas as ações e nas cobranças de todas as esferas políticas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Das contradições nossas de cada dia...


Ser de esquerda e ter iphone... Não que invalide todas as questões humanitárias de ser de esquerda, mas admitamos o processo de exploração trabalhista e ambiental utilizado para fabricação do aparelhinho comprado por valores na casa dos milhares... Assumamos também que se queremos uma sociedade socialista, não é possível, social e ambientalmente, que todos tenham um iphone... Vc só o tem porque há gente sendo explorada para a sua fabricação e há recursos naturais – finitos – utilizados para a sua fabricação. O nosso planetinha não suportaria o nosso modo classe média sofre de consumo para os mais de 7 bilhões de seres humanos com quem dividimos essa terrinha aqui. Idem para outras marcas dos nossos tão amados eletrônicos, né?

Ser feminista e julgar a “amiga” de short curto, blusa transparente etc etc etc... Ser homem feminista, mas não abrir mão do cavalheirismo. E no primeiro desagrado, nada melhor do que chamar a mulher de louca... E se fantasiar de mulher no carnaval, com todos os estereótipos do que é “ser mulher”... E esperar a roupa limpa e passada feita pela mamãe, esposa ou empregada doméstica, mulher, lógico.

Não abrir mão de fazer caridade na campanha da fraternidade: “fazer o bem sem olhar a quem”, mas ser absolutamente contra o programa Bolsa Família: “Porque qualquer um pode ser o que quiser, basta se esforçar.” Mas não cansar de se queixar de como os impostos, o chefe, e todo o mundo conspira contra o seu progresso profissional e enriquecimento...

Pós-modernidade. Complexidade. A explicação para a coexistência de facetas incompatíveis?... 


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Gasolina: R$3,00, Água: R$4,00, xingar muito no facebook não tem preço!

Ok, o combustível está caro e dói no bolso encher o tanque, mas antes dos protestos contra a Dilma é melhor rever um pouquinho a história e entender quando realmente começou a ficar tão caro encher o tanque do carro (comprado com orgulho com IPI reduzido!).
Mas melhor deixar pra lá e colocar a culpa na Dilma que é bem mais fácil e ainda garante várias curtidas.

E enquanto abasteço o carro, resolvo comprar 1L de água mineral a R$4,00 e postar o absurdo que é pagar R$3,00 o litro da gasolina... Classe média sofre!

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