Quando naquele 2 de abril eu fui te adotar, Lenin, e tão logo você se levantou na caixinha, se destacando dos seus irmãozinhos gatos, peguei você no colo e não larguei mais. Nunca te disse isso, mas não larguei por vergonha da minha covardia. Naquele hora senti um medo tão grande que tomou conta de mim. Olhava pra você, ainda tão pequeno e frágil, com miado baixinho e pensava se seria capaz de cuidá-lo bem. Fico pensando se isso foi presságio da angústia de agora.
O tempo foi passando, você foi crescendo e o medo passando. Parecíamos uma duplinha perfeita no nosso lar doce lar que você enchia de pelinhos e brinquedos por todos os cantos. Não foi difícil te alimentar, dar água fresca, abrir a torneira quando você queria beber água corrente e até mesmo dar os remédio que você precisou. Até dia 26, a maior angústia tinha sido a espera durante a sua castração, mas logo veio o alívio de vê-lo acordando bem e estar 110% no dia seguinte, subindo por tudo e pulando por cima de mim.
Eu não conhecia muito os gatos. Não sabia q você roeria meus fones de ouvido, carregadores e arrancaria todas as borrachinhas que tampam os parafusos da minha escrivaninha. Não sabia que você tentaria beber água do vaso sanitário, que ia miar pra pedir um pouquinho de requeijão na colher e querer lamber a lata de cerveja toda vez que eu pegasse uma latinha. Você era mesmo parça! Não sabia que, oposto ao que todos dizem, seria tão apegado a mim, estando sempre à minha espera na porta, não importava o tempo que eu tivesse ficado fora, me acordando de manhã com miadinhos suaves, me amassando como um pãozinho (ou nem tão inho assim), ficando nos meus pés enquanto eu escrevia a fórceps a tese de doutorado e ficando na pia ou no vaso sanitário a me observar enquanto eu tomava banho. Depois de você eu não morava mais sozinha, tínhamos um lar!
Até que na última terça feira, dia 26, você decidiu dar um rolê – meu amor por você, Lenin, te queria livre também, jamais considerei deixa-lo aprisionado em um micro ap. sem poder ter contato direto com o sol ou com a natureza – mas dessa vez o rolê se estendeu. Até agora você não voltou e o meu coração está tão apertado que parece que vai explodir a qualquer momento. A angústia da espera e do não saber se você comeu, se está machucado, se tomou água... Mais um desses silêncios ensurdecedores pelo barulho perturbador que fazem dentro do coração.
Lenito pequetito, vc me fez tão feliz!!! E quero ser grata apenas por ao menos já ter vivido esses 6 meses de descobertas e alegrias com você. E não vou me despedir por ora. No meu coração e aqui em casa sempre terá seu espaço para se você puder e quiser voltar!!! Mas tudo o que eu mais quero é q você volte, de qualquer jeito, pra eu te encher de amor e comidinhas gostosas! Vou seguir te esperando, com a porta e o coração escancarados, e ainda que não seja nessa vida, qualquer dia desses eu volto a te encontrar...