Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sábado, 21 de agosto de 2010

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 3

Grrrrrrrrrrrrrrrrr!!! Que ódio!!! Ah eu sei que não é bom cultivar sentimentos negativos. Mas esse eu fui obrigada a cultivar praticamente em nome de regras sociais. Diplomacia.


Encontrei com a Sueli no shopping hoje. Mero a caso. Uma plástica a mais no rosto, cabelo alisado, mais curto agora, mas a mesma falsidade de sempre. Como pode?


O fingimento de sempre: “Cláudia, querida!!! Que saudade de você! Está sumida!”. Pois é, há tempos parei de estudar répteis e então não tenho mais porque visitá-la.


Não, não disse isso, lógico. Minha necessidade de mostrar que, apesar de todos os seus joguinhos para se promover às minhas custas na empresa, eu estava ótima, trabalhando, casada, com dois filhos ótimos, morando muito bem e ainda com meus cachorros – que ela detesta! – me fizeram ser aquela Cláudia recém-formada de sei lá quantos anos atrás – não quero pensar nesse número agora! – e falar interruptamente até quase perder o fôlego. Policiando-me para manter um sorriso no rosto que quase me deixou com câimbra e que deve ter ajudado a formar essa ruguinha nova aqui no canto. Droga!


Nossa! Sabe que talvez seja bom mesmo eu começar a pensar com mais carinho na história do peeling. Pego um feriadão e fico descascando em casa. Minha pele está um horror! Minhas amigas diriam que é falta de sexo.


Mas quer saber, no fim dos beijinhos e do cordial “Apareça!” me bateu uma tristeza. Não mais pela Sueli que já é página virada na minha vida há anos, mas por ficar imaginando quantas “Suelis” mais, ainda encontrarei na minha vida. Pessoas falsas que irão me encantar com um sorrisinho e um jeito amigo de ser e que no fundo é pura falsidade. Ai Espelho, eu realmente cultivo uma fé quase inabalável no ser humano, mas essas coisinhas...


É, eu sei, também encontrei muita gente bacana! Muita mesmo! A Mariá que me apresentou o Victor quando eu estava na maior fossa depois de um amor mal resolvido de 5 anos. Achava que ia morrer solteira e a Mariá, uma colega do trabalho que eu não tinha lá muita consideração por julgar muito pudica, na época me falou que tinha um amigo muito interessante para me apresentar, que ela achava mesmo que poderia dar certo. Desacreditei na mesma hora. Amigo da Mariá? A quase beata que acha um absurdo sexo casual, e festas regadas a álcool de vez em quando? Deve ser um cara chato, enfadonho, todo certinho. Não, obrigada. Tudo o que eu queria era o cara torto, que me desmontava com um olhar, capaz de me fazer cometer loucuras... mas a idade já avançava e eu não me permitia mais um caso tão fugaz e então Mariá foi insistente em querer me apresentar seu amigo “enfadonho”. Foi ela também a amiga que me levava caixas de lenços no almoxarifado quando eu desaparecia por muito tempo após uma ligação estranha. Foram muitas caixas. Muitas.


Sabe, Espelho, eu até sinto saudade dessa fossa. Primeiro porque a história foi incrível. Dessas de cinema, que eu jamais imaginaria viver, e depois porque esse sofrimento todo, por mais que eu fizesse todo aquele drama, dissesse que queria morrer, a sensação de estar viva era incrível, porque a latência da dor mostra o quão viva se está. Não, não sou masoquista. Mas sofrer por amor me fez mais humana e até, mais doce, talvez.


E no maior dos clichês me fez melhor para encontrar o Victor! Argh! Que coisa mais piegas! Mas no fim é verdade. Fui resistente no começo. Muito. Estava certa de que alguma coisa errada ia acontecer, mas comecei a me permitir ficar encantada novamente. Ele tinha um jeito engraçado, mas também sério quando precisava. Gostava de música tanto quanto eu. Sabia que Dostoievski não era nome de vodka. Morava sozinho desde que se formou e tinha um pique de piada que se encaixava ao meu, e aí, bingo, o impossível aconteceu! Estava apaixonada de novo.


Mariá se sentiu vitoriosa, e por meses tive que ouvi-la repetir “eu te disse”; “eu falei que ele era perfeito pra você!”; “eu não sei por que você não acreditou em mim”. A partir daí Mariá passou a ter mais credibilidade comigo, tanto que foi madrinha de casamento. Não tinha como ser diferente, não é mesmo?


Mariá é daquelas pessoas que você acha que nunca vai ser sua amiga. Não tem absolutamente nada a ver comigo. Extremamente religiosa, nem palavrão fala. Casou aos 22 anos ainda na faculdade e tem 5 filhos porque é contra métodos anticoncepcionais. Acho que ficamos amigas mais por insistência dela. Brinco dizendo que ela veio pra tentar me endireitar e mesmo assim não teve jeito! [rs]


É espelho, o mundo aí fora é assim, cheio de Suelis, mas também com muitas Mariás, e te garanto elas são bem mais interessantes que Bruxa e Branca de Neve...



Um comentário:

  1. Oi Mi!
    Tá ficando mto bom! Vou ter que comprar esse livro hein??? Que bom que esse mundo tá cheio de Mariás também!
    Aguardo as cenas dos próximos capítulos!
    Beijo grande!

    ResponderExcluir

Seguidores