A educação perpassa por toda a vida de nós, seres humanos. É pela educação que nos constituímos como tais. Está aí a distinção entre educação e ensino. É por meio dos ensinamentos que somos educados. A escola, institucionalização do ensino, surge para moldar a educação. É na escola, reprodutora da sociedade, que se aprende as relações de poder e instaura-se a cultura vigente na sociedade. É um processo histórico, no qual a escola vem servindo ao sistema longinquamente e, apesar do discurso de mudança, permanece.
As escolas públicas, hoje desacreditadas por seus inúmeros problemas, parecem não ter solução. A sociedade legitima essa idéia no discurso de que lá estão professores e alunos que não querem nada com nada. Ora, ainda que haja pessoas desmotivadas, há de haver algum querer nesse espaço e também um não querer. A sociedade não entende que as “lutas” que lá acontecem são uma reação da massa que não quer mais ser tratada como depósito de uma cultura elitizada que a ela não faz sentido. É uma “luta” para legitimação de uma outra cultura, a cultura da massa, dessa maioria que o poder público tenta esmagar com a desqualificação da escola como uma instituição de formação para cidadania crítica e emancipação.
Nesse cenário surge a escola particular, salvação para a classe média, que pode se alocar num local mais confortável, longe dos “baderneiros”. Que o preço seja a alienação do poder do dinheiro. Até quando aceitaremos, digo aceitaremos porque também faço parte dessa classe média que recorre(u) à escola particular, pagarmos duas vezes por um serviço que deve ser um bem público com qualidade? Que tipo de valores passamos às crianças e à sociedade quando nos colocamos a par do problema com o poder do que o dinheiro pode comprar?
Comprar educação? Compra-se um ensino, que também nem sempre é de qualidade. Aliás qualidade é o discurso das instituições particulares de ensino. Que qualidade? Qualidade para quem? Qualidade que transforma nossas crianças em soldadinhos aptos para o vestibular? Qualidade para produzir reprodutores de um sistema instituído, em que muitos foram, são e serão excluídos?
A escola particular é a melhor representação de serviço ao sistema. Coloca-se à venda um produto e entra-se numa guerra de marketing para “abduzir” alunos a qualquer preço. Muitas se esquecem do que estão a oferecer, pautando-se em discursos mercadológicos neoliberais e apresentando estruturas “McDonalizadas”. Algumas já apresentam o “drive-thru” de crianças. Os pais não precisam se preocupar mais em parar, conversar com os professores dos seus filhos, dar um abraço, olhar nos olhos de suas crianças e perguntar-lhes como foi seu dia, basta acessar com o carro por uma rampa, e a criança é depositada no carro.
Quero esclarecer que não sou contra a escola particular que cumpre com o seu dever de instituição idealizada para uma Educação crítica e emancipadora. Que esteja tranqüila com o cumprimento de seu dever social como instituição educacional e possa resolver com serenidade os problemas que a abate dentro de uma concepção educativa e não mercadológica.
Que a escola seja uma instituição de ensino, mas ela deve apresentar como objetivo final a Educação, a qual é abrangente, tem o poder de formar o homem como um cidadão crítico, capaz de pensar por si só, ser atuante, de não contentar-se com políticas públicas que lhe garanta sobreviver. É preciso viver!