Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

terça-feira, 2 de novembro de 2010

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 5

PARTE 4

Não sei se foi o início da primavera, mas tenho me sentido mais animada e estou empolgada com a história das bodas. Acho. Acho sim tudo um grande teatro social, mas sempre gostei de teatro mesmo, não desse tipo, é verdade, mas às vezes é importante saber se divertir com o que se pode ter, então estou tentando me divertir.
É, nem tudo é divertido. Só de pensar em organizar tudo já fico cansada. Mas olho pra minha família e vejo que tenho muito que comemorar. Foram dez anos incríveis. Construímos muita coisa juntos. E nossos filhos, apesar de ter hora que eu tenha vontade de espremer um na mão, eles são a maior riqueza que eu poderia ter na vida. E eles estão numa empolgação só.
É engraçado vê-los querendo saber como Victor e eu nos conhecemos, e o ideal romântico deles ainda completamente arraigado às conveniências sociais. “E aí você ajoelhou e pediu a mamãe em casamento, papai? A Júlia perguntou. Se ela soubesse que ficamos noivos mais bêbados que gambás numa aposta de pôquer entre amigos.
Mas Victor com aquele olhar sarcástico dele, que criança ainda não percebe, “Sim, Júlia, comprei um anel caríssimo pra sua mãe, colhi flores do campo, peguei um cavalo branco e fui até a casa dela pedi-la em casamento.” Caímos na gargalhada. As crianças não entenderam, mas riram juntas. E o Pedrinho, tão ingênuo: “E o que você fez com o cavalo quando a mamãe disse sim?” “Ele fugiu!”. E nesse momento conquistamos aquela cumplicidade no olhar que eu nem lembrava que tínhamos.
Foi besteira minha dizer que não sabia se o amava. É que agora é tudo diferente. Depois de dez anos as coisas mudam e é difícil acompanhar a mudança no ritmo que a vida está.  Olhá-lo inventando histórias de conto de fadas sobre a gente para as crianças, brincando com os cachorros. Não podia ser melhor. É, podia. [risos] Ele poderia se lembrar que eu não gosto dos pães moreninhos, mas ok, ninguém é perfeito.
Você notou, né? Ele não incomoda mais meu tempo com você. Expliquei a ele que eu preciso desse tempo. Não contei do nosso “caso”, lógico. Não que ele fosse ter ciúmes de um espelho, mas gosto de pensar que tenho um segredo. O quê? O primo da Guida? Isso não é um segredo efetivo porque não aconteceu nada. Não tenho a menor culpa se ele lança olhares carnívoros sobre mim. Então agora eu preciso contar a ele sobre cada cara que me olha mais incisivamente?
Talvez essa onda de bom humor, com direito até a contos de fadas, seja fruto de uma grande bola fora dele. Ele teve a pachorra de me perguntar se eu queria colocar silicone de presente de bodas!!!!!!! Como assim?!?!?
Olhei fixamente para ele e disse “QUÊ?!?!?!?!?!?!?”
Ele deve ter achado que eu estava muito feliz com o presente e me disse sorrindo: “Se você quiser, eu pago. Fechei um negócio muito bom essa semana na empresa...” Nem o deixei terminar “Ah então você não está satisfeito? Quer uma dessas mulheres turbinadas com 500 ml de silicone, é isso? Porque se for isso, pode ir procurar uma dessas mulheres frutas que se você espremer vaza silicone por todos os poros...” Não sei por que tive essa reação, mas ele nunca mais tocou no assunto.
E olhando bem, talvez eu não precise mesmo. Acho um horror não saber envelhecer. Sempre disse que queria ser uma quarentona jovem, mas consciente de que era uma quarentona.
Lógico que fiquei encanada. Será que ele está insatisfeito? Por que qual outro motivo de um marido oferecer um par de silicones para a esposa? Pensei nisso por uns 3 dias sem parar. Comentei na terapia. Contei para minhas amigas. E ainda não cheguei a uma conclusão convincente do que isso possa significar.

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