Demitida. DE-MI-TI-DA. Por que eu? Por que comigo?
“A empresa está precisando diminuir os gastos e houve a necessidade de alguns cortes, não é nada pessoal, o seu trabalho é ótimo e temos a certeza de que não será difícil você se recolocar no mercado de trabalho, mas entenda que nesse momento a empresa precisa tomar algumas decisões e bla bla bla...”
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”
Deve existir alguma lei da Física que impede que se mantenha uma estabilidade emocional. Depois das bodas, da viagem de “lua de mel”, parecia que finalmente tudo iria ficar bem, e eu já ousava pensar no meu happy end, e agora...
Começo a pensar em como ocupar meu tempo. Parte dele irá para terapia. Eu preciso de alguém que me ouça e que me retorne alguma resposta. Eu preciso de respostas!
O pouco tempo que sobrará eu pretendo dedicar às crianças, mas tenho medo de não saber como fazer isso. Fico pensando que nunca fui mãe em tempo integral. Como é ter um dia inteiro com os filhos? Será que eu dou conta? Será que eu sei ser esse tipo de mãe? E se eles passarem a me odiar?
Acho que vou me matricular em algum curso. Tentar algum curso de madames. Ou me irrito com elas e mato uma, ou convenço-me a ser uma delas e aceito os peitos que Victor me ofereceu de presente.
Ando com uma fixação com silicone... Tenho falado muito nisso, pensado muito nisso. Acho que Victor abalou minha auto-estima com essa oferta. Auto-estima que nesse caso específico já não estava muito “pra cima”.
Tenho 40 anos, e quando pensei que tudo estava exatamente do jeito que eu havia pensado, estou desempregada. Meu Deus, como essa palavra pesa! Victor, tentando me acalmar, me animar talvez, disse para eu não me preocupar, que não teríamos problemas financeiros com isso, que ele estava prestes a conseguir a promoção que tanto batalhara e com o seu aumento continuaríamos a ter a nossa vida confortável de sempre.
E eu? Como eu fico nessa história? E a minha carreira? No fim Victor é apenas mais um machistazinho disfarçado. Deve estar muito feliz de poder dizer que tem a mulher em casa. Estou até vendo ele me oferecendo um cartão de crédito para poder compartilhar com os amigos as piadas sobre os gastos das esposas.
Eu estou parecendo uma panda, e não é porque dormi bêbada de rímel. São olheiras profundas de quem chorou por horas, inconsolável. Tento me consolar lembrando da insuportável da Deise, com que não terei mais que conviver. Uma mulher arrogante, metida a intelectual, mas que diz que está “meia cansada” de trabalhar tanto e pensa em mudar de ramo. Mudar de ramo! Sei, vai assumir a profissão que a colocou onde está hoje. A mulher é iletrada! Uma vez me mandou uma mensagem dizendo “ADEVIR alguém muito especial para te fazer feliz”. O resto da frase também tinha erros, lógico, mas nada que se compare ao “adevir” que deve ser irmão do Ademir do Xerox. [RS]
Muito bem, Cláudia, Parabéns! O seu há de vir é perfeito, e daí? Olha pra você agora! Ahhhhh!!!! Eu não sei como vou sobreviver!!! Vou morrer de saudades do pessoal do administrativo, era lá que eu me mantinha atualizada nas gírias atuais. Passar por lá era sempre certeza de muita risada. A garotada do Xerox, sempre tão atenciosos e simpáticos.
Garotada? Quando é que eu comecei a falar assim, meu Deus?!?! Não faz nem 24 horas que estou em casa e já estou incorporando todo o peso de ser uma quarentona dentro de casa.
A D. Bene do cafezinho, diria para eu parar de ser boba, que ainda sou uma menina. Eu vou morrer de saudades de tudo isso. Talvez sinta saudade até da Deise “meia cansada”, porque ao menos ela nos proporcionava boas gargalhadas, ainda se ela tivesse me enviado um bilhete garantindo que “adevir” um emprego melhor pra mim.