Para que serve a utopia?

"A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais a procure, menos a encontrarei. Qual sua utilidade, então? A utopia serve para isso, para caminhar!"
Fernando Birri (diretor de cinema)
http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CONVERSAS COM O ESPELHO - PARTE 8


Depois de uma breve divagação com a dúvida se tudo aquilo era mesmo real, decidi trazer-me de volta àquela situação e percebi Victor amigo da “galerinha” e aceitando algo verde deles. A princípio achei tudo um absurdo. Então era esse o cenário de viagem de bodas? Perdidos em Búzios, num albergue úmido de madeira, com uns hippies, e um cigarrinho de maconha?

Ao menos a chuva já tinha parado e Victor me convenceu a sair do quarto, o que também não precisava de muita insistência. Acabamos caminhando até a praia que era bem perto dali. Victor me olhou como quem diz “que tal?”, já acendendo um fósforo que havia pegado com os hippies também. Acabamos a noite rindo à toa e, deitados na areia molhada, adormecemos. Acordamos a tempo de presenciar um nascer do sol espetacular. Nessa hora, olhei para nós e já estávamos rindo muito, não mais pelo efeito anestesiante do nosso cigarro, mas por pensarmos sobre com qual moral falaríamos sobre drogas e segurança para nossos filhos... Mas essas são histórias apenas para contar para os netos.

Voltamos para o quarto e os hippies, agora melhores amigos de Victor, já estavam todos na “pegada” para curtir umas ondas. Então eles eram surfistas? Jurava que eram hippies! Essa geração não tem muita personalidade, pensei. Acabamos tomando café da manhã juntos e foi muito agradável. Eram jovens animados, felizes, curtindo a vida. Aproveitando a semana do saco cheio da universidade para viajar. Senti até uma certa invejinha deles. Daquela alegria toda, aquela vida saltando pelos olhos, aquela ânsia por viver, por aproveitar cada segundo, quase me senti uma universitária ao lado deles com tantas recordações que tomaram conta de mim.

Depois do café fomos direto para recepção para encerrarmos nossa breve estadia no albergue e o hippie da recepção nos presenteou pelas nossas bodas e não nos cobrou absolutamente nada. Ainda deixou um cartão do “Hostel” para quando quiséssemos voltar. Ele garantiu que sempre teria um quarto especial para nós. Acabamos ficando sem graça de não pagar, afinal, nos alojamos ali por algumas horas e Victor deixou uma cervejinha para o hippie.

Entramos no carro e fui logo dizendo: Por que é que não perguntamos como chegamos no nosso hotel? Victor disse que seria muito descortês da nossa parte pedir informação sobre um hotel depois de termos sido tão bem tratados no “Hostel”. Agora ele nem dizia mais albergue. Sabíamos que nosso Hotel ficava de frente para o mar, então não deveria ser tão difícil encontrá-lo. Seguimos até a praia novamente, andamos uma quadra e lá estava: nosso hotel. Nosso hotel estava apenas há uma quadra do Hostel.

Lá eu mal precisei sair do carro com tantos paparicos de funcionários para tudo. Chego a me sentir sufocada, mas tudo que eu queria era um bom banho e cama. Dessa vez apenas para dormir. E dormimos, novamente até o anoitecer. E lá se foram dois dias da nossa viagem.

Saímos da hibernação apenas para o jantar. Tudo uma delícia, mas uma gente estranha, nariz empinado, que fala baixinho. Não gosto! Comecei a sentir falta dos hippies. E eu estou até agora sem entender o porquê, mas um casal, desses novos burgueses, não sei se eram mesmo, mas eram típicos, resolveram ficar nossos amigos. Não! Não estávamos ali pra fazer amizade com uma mulher que usa maquiagem e jóias para ir à praia e um marido brancão que parece um pão cru que parece ter sido alfabetizado apenas para dizer “sim, meu amor”. Eu sei. Esses não são motivos cabíveis, mas eles eram enfadonhos. Já no nosso primeiro jantar decidiram sentar-se conosco. Dizem que sempre fazem isso, escolhem um casal para partilhar a companhia deles. Deve ser porque eles sozinhos não se agüentam!!!!!!

Eles nos acompanharam também no dia seguinte por todos os lados. Café da manhã, praia, lojinhas. Escolhi um boteco pé na areia, beira mar para parar, imaginei que a madame odiaria e desistiria da nossa companhia, mas não! Ela reclamou, mas disse que gostara tanto da nossa companhia que faria esse sacrifício por nós. Ele, um palerma, do tipo que só dizia: “Sim, senhora” e pagava as contas, aceitou também sem pestanejar. Foi então que encontramos nossos amigos, os hippies surfistas, nesse momento nossos melhores amigos. Foi uma juntação de mesas, cerveja pra todo mundo, camarão, peixe frito, caipirinha. Adoro! Mas não demorou muito para a Rôrô, foi assim que ela se apresentou e esqueci-me de perguntar seu verdadeiro nome, sentir dor de cabeça e dizer que nos aguardaria para o jantar no Hotel. Mal consegui ouvi-la pois nesse momento a música já rolava alto e já estávamos dançando a beira mar e rolando na areia já sob a luz de uma lua espetacular.

Chegamos no Hotel tão felizes que fomos convidados a usar o elevador de serviço. Acordei no outro dia meio empanada de areia ainda. Talvez por isso tenham pedido para usarmos o elevador de serviço.

Os outros dias foram mais normais. Resolvemos nos disfarçar de casal quarentão em busca de descanso e ficamos na vidinha mansa e comportada sem mais cigarrinhos ou grande porres. Na verdade eu já não agüentava mais ficar de ressaca, e então aproveitamos para aproveitar mais a dois. Nosso casal de “amigos” já havia nos abandonado e nem nos disseram tchau. Bandidos. [RS.]

No último dia ainda acordamos cedo e nos ocupamos nas lojinhas comprando as lembrancinhas para as crianças, mãe, pai, sogra, empregada... “Estive em Búzios e me lembrei de você”... Uma mentira. [RS.]

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